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segunda-feira

Assembléia indígena reúne 186 aldeias de Roraima


Conselho Indígena de Roraima
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A trigésima quarta Assembléia Geral dos Povos Indígenas de Roraima reuniu 186 tuxauas (caciques) na aldeia Maturuca, TI Raposa Serra do Sol, nos dias 12 a 15 de fevereiro de 2005. O evento contou ainda com a presença de conselheiros regionais, agentes de saúde, professores, lideranças do Movimento de Mulheres Indígenas e convidados índios de não-índios de outros estados, num total de 1.030 participantes.

Com o tema "Makunaima: vivo até o último índio", a assembléia resgatou a importância do herói mítico dos povos da região e expressou o desejo de as lideranças coordenadas pelo Conselho Indígena de Roraima - CIR, lutarem pela garantia de direitos amparados pela lei brasileira. "Makunaima está vivo entre os povos indígenas que resistiram à violência da colonização e sobreviveram ao genocídio, ainda hoje praticado, contra os índios no Brasil", cita o documento final assinado pelos tuxauas.
Sob a inspiração e orientação de Makunaima, os líderes indígenas debateram com representantes de instituições públicas e da sociedade civil, a luta pelo direito à terra, conservação ambiental, saúde e educação diferenciadas e o desenvolvimento de projetos sustentáveis. Em todos os debates ficou expresso o consenso de que, sem a homologação contínua de Raposa Serra do Sol, não será possível o avanço das ações comunitárias.
Durante quatro dias a aldeia Marutura abrigou fervorosos debates, com duras críticas ao governo do Presidente Lula da Silva, à bancada federal de Roraima e ao Poder Judiciário. Os líderes indígenas também denunciaram a violência e a degradação ambiental praticada por invasores das áreas indígenas.
Marinaldo Macuxi é eleito coordenador
O tuxaua Marinaldo Justino Trajano foi eleito coordenador do Conselho Indígena de Roraima para o mandato de dois anos. Jairo Pereira da Silva assume a vice-coordenação e Lavina Salomão, a Secretaria do Movimento de Mulheres. O coordenador eleito obteve 2.711 votos e o vice 2.279. O candidato Dionito José de Souza logrou 1.461 votos e Valdeci Wai Wai,1.088. Participaram do pleito 177 comunidades, totalizando 7.539 votantes. Para não ocorrer sobressalto nos trabalhos do CIR, os quatro candidatos que disputavam a eleição vinham acompanhando todas as atividades da organização desde dezembro de 2004. "A assembléia indica tudo que dever ser feito pela coordenação", explica Jacir de Souza, que passa o cargo de coordenador após quatro anos à frente da entidade.Marinaldo Macuxi e Jairo Pereira tomaram posse no encerramento da 34ª Assembléia Geral dos Povos Indígenas de Roraima.
Eles se comprometeram trabalhar com afinco pela homologação da TI Raposa Serra do Sol, contra a bebida alcoólica nas comunidades e por novas conquistas nas áreas de saúde e educação. Ambos finalizaram os seus discursos pedindo a união de todas as aldeias de Roraima.

Conselho Indígena de Roraima

quinta-feira

Cartum da Semana:

Cartum de autoria de Eugênio.



terça-feira

A indústria do anticomunismo


Emir Sader


Um escritor judeu residente em Nova York chamou de membros da “indústria do holocausto” os que vivem às custas do massacre sofrido pelos judeus – assim como pelos comunistas e pelos ciganos, tão esquecidos. São burocratas, “intelectuais”, “religiosos” que vivem da exploração do tema – literalmente vivem: ganham dinheiro, prestígio, espaço na imprensa e nas editoras.
O mesmo se pode dizer do anticomunismo. O fim da URSS e do campo socialista deixou um tipo particular de viúva: os que viviam da “guerra fria”. Na Argentina, no momento da morte de Perón, um antiperonista radical – do Partido Radical – escreveu, desconsolado: “Nesse caixão vai metade da minha vida. Eu que cresci e vivi como antiperonista, o que vai ser de mim, de onde vou tirar o sentido da minha vida?” No desespero, sentia-se traído por Perón, que o abandonava à sua própria sorte.
Um comunista me dizia outro dia que se deliciava em ler a sobrevivente literatura anticomunista, porque dá a impressão que o mundo está à beira do comunismo, que os dias do capitalismo estão contados. Essa fauna encontra vários exemplares por aí, viúvas da “guerra fria”, que tratam de viver do anticomunismo: colunistas de uma (ainda) bem vendida revista semanal, filho de um marqueteiro; um articulista de duvidosa existência (há quem diga que é pseudônimo de um esquerdista, que criou esse grotesco personagem para desmoralizar a direita), um editor cultural promovido por um assassino – todos personagens jurássicos, deslocados, que têm que criar o fantasma do comunismo para aparecerem como valorosos “salvadores do capitalismo”, cobrando polpudos salários por esse papel que se auto-atribuem.
A mencionada revista semanal, saudosa dos tempos da bipolaridade EUA/URSS, destila periodicamente – entre capas sobre temas de saúde, de compras, de variedades, tiradas de revistas estadunidenses – seus venenos anticomunistas, de que pretende tirar proveito mostrando serviço ao grande empresariado e recebendo vantagens em troca.
Pautas como o MST, Cuba, guerrilhas, PT, Venezuela (lembram-se da grotesca matéria de capa regozijando-se do golpe contra o “ditador” Hugo Chávez, uma das maiores gafes dos últimos tempo na imprensa brasileira) alternam-se com matérias fúteis de propaganda do “american way of life”.
Nesta semana, por falta de pauta – o mundo e o Brasil lhes parecem suficientemente pobres de interesse – publica-se com estardalhaço – como se sugeria nos manuais de propaganda estadunidenses da “guerra fria” para os órgãos financiados e promovidos por eles – uma pífia matéria sobre suposto financiamento das Farc ao PT.
As Farc são um prato cheio para os nostálgicos da “guerra fria”. Guerrilha, América Latina, Partido Comunista, tentativa de criminalização acusando-os de “narcoguerrilhas” – sem nunca mencionar os reconhecidos vínculos do presidente colombiano com os paramilitares e, através destes, com os cartéis (nunca usaram a expressão “narcopresidente”). A matéria não apresenta nenhuma prova concreta, refugiando-se em fontes que teriam desejado não aparecer. Nada ficará quando a espuma da onda baixar. Mas a onda está feita, repercutida em todo o resto da imprensa escrita do fim de semana, com direito a desmentidos e entrevistas na televisão.
É esse o papel da imprensa da “guerra fria”. Desvia-se das pautas essenciais para o povo brasileiro e para o Brasil e resta o que os monopólios privados da mídia impõem. Uma senhora idosa declara, no Estadão, que é bem atendida pelo médico cubano que a atende em uma pequena cidade de 3 mil habitantes no norte de Tocantins – onde nenhum médico da burguesia vai. Mas o artigo publicado – sem uma outra versão, como pede o manual de redação desse jornal – na Folha de S. Paulo se preocupa com a validação do diploma da primeira geração de médicos pobres no Brasil.
Supostamente preocupados com a saúde do povo brasileiro, sem se dar conta de que esses médicos vão trabalhar em cidades como essa de Tocantins, na saúde pública, e que não vão concorrer com a clientela rica dos Jardins. Se preocupam com o diploma da Faculdade Latino-americana de Medicina, em Cuba, país que têm um dos melhores índices de saúde do mundo, ao contrário do Brasil, onde predomina a medicina privada.
Mas a indústria do anticomunismo precisa levantar os fantasmas da subversão, para poder vender seus serviços para uma burguesia covarde, disposta a qualquer coisa, para não perder nem os dedos, nem os anéis.


Emir Sader, professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de “A vingança da História".

segunda-feira

Bolívia rebelada


Luis Bruschtein, Pagina12


Foram contra ele algumas das últimas palavras de Carlos Mesa antes de apresentar sua renúncia, nesta segunda feira, à Presidência da República da Bolívia. Evo Morales, deputado e líder do MAS, Movimiento Al Socialismo, recebeu os louros – compartilhados por Abel Mamani, presidente da Federação de Juntas de Moradores da região de El Alto e também acusado pelo presidente demissionário – por ter liderado uma escalada de protestos que acabaram por levar um governo já hesitante à paralisia

Os conflitos a que Mesa atribui sua renúncia mobilizaram bolivianos nos últimos dias rumo à certeza de que poderão enfrentar, de uma só vez, as transnacionais, as velhas oligarquias bolivianas e os partidos que as representam. A Bolívia saiu às ruas para tornar-se uma outra Bolívia. Literalmente, os movimentos que acuaram Mesa querem convocar uma Assembléia Nacional Constituinte para “refundar” o país. Querem também aprovar, imediatamente, a Lei de Hidrocarburetos que assegura à Nação pelo menos metade das taxas pela exploração do petróleo.

Indígena, filho de aymarás e lider camponês cocalero, Evo Morales não só está à frente das mobilizações por mudanças, como será peça-chave na definição de rumos da Bolívia. Seu partido, majoritário no Congresso, terá de decidir se aceita ou não a renúncia de Carlos Mesa, tida como uma chantagem final do presidente, ao pular espertamente do papel de dirigente submisso aos interesses das transnacionais para o de vítima de lideranças intransigentes.

O MAS tem compromissos com os milhares de bolivianos que, nos últimos dias, trancaram estradas para defender sua posição em defesa da recuperação dos recursos naturais, como a água e o gás, entregues à exploração de transnacionais. E terá de enfrentar a ira de outros setores bolivianos inconformados com uma segunda interrupção de mandato presidencial e que, ontem, também saíram às ruas para pedir a Mesa que não renuncie e use de “mão pesada” contra os revoltosos. São, porém, cada vez menos os que se escudam na idéia de uma solução pela linha dura.

Evo Morales conta nesta entrevista ao Página 12 como os setores médios do país começam a vê-lo com simpatia, como um possível candidato à presidência em 2007. E sentencia: eu só acredito no poder do povo (RF)








Qual é a posição do (seu partido) Movimiento al Socialismo em relação ao gás da Bolívia?


Consideramos tratar-se de um recurso natural, patrimônio nacional. Por conta disto, a primeira etapa na luta de nosso povo é a recuperação de sua propriedade. Já o segundo passo é encontrar uma forma pela qual a comercialização e exploração desse gás beneficiem os bolivianos. Em terceiro lugar, esta a exportação aos países da região - para Brasil, Chile, ou mesmo Argentina. No caso do Chile, nós a incluimos no contexto de outra negociação, que é a saída ao mar.
Se querem importar gás boliviano, estamos falando de reciprocidade, significa fazê-lo de modo que possa resolver os problemas de nossos países e de outros. Quando falo de reciprocidade, os países da região devemos, fundamentalmente, nos entender. E, se falamos da Argentina, temos que entabular as negociações, mas num contexto de equilíbrio do qual nossos países se beneficiem, tanto o produtor como o consumidor. E para isso temos que tirar do meio as transnacionais, os intermediários. Que sentido faz um negócio para nossos países quando a negociação se dá entre a Repsol-Bolívia e a Repsol-Argentina? Nenhum.

Para chegar a uma negociação desse tipo, muitas coisas deveriam mudar entre os dois países...

Aqui a negociação tem que ser de Estado para Estado, para que os povos se beneficiem. Neste momento, estamos na etapa de mudar, na Bolívia, a Lei de Hidrocarbonetos, recuperando sua propriedade. A partir daí, seria refundada a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (estatal petrolífera boliviana), para que fosse exercido o direito proprietário e estabelecidas negociações em nome do povo boliviano – a Yacimientos havia sido eliminada como empresa estatal. Nós consideramos que ela deve ser reaberta para explorar, industrializar e exportar este recurso natural.

Em que ponto se encontra a discussão sobre o assunto na Bolívia?

Neste momento, o povo está mobilizado em greves de fome, marchas, bloqueios de rotas, para que o Parlamento aprove de uma vez a nova Lei de Hidrocarbonetos, garantindo a propriedade e refundando a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos, com 50% do ganho sobre os direitos de exploração para a empresa e 50% para o Estado.

Quanto tempo pode demorar a aprovação da nova lei?

A lei em si já está aprovada, falta que passe pelo Senado. O tema ao qual têm sido colocadas as maiores restrições é o referente ao tributo sobre a concessão para a exploração.

O que declara a Repsol em relação à nova lei?

Bom, as transnacionais nunca querem deixar a mamadeira, este é o problema. E não faltam alguns parlamentares e políticos que defendam o interesse das multinacionais acima dos interesses dos bolivianos.

Depois das eleições nacionais de 2002 na Bolívia, o MAS, partido que você conduz, acabou posicionado como o mais importante do país...

Nas eleições nacionais de 2002, fomos legalmente apontados como o segundo partido. Mas, quando o assunto são as eleições municipais, somos, legal e legitimamente, a primeira força.

Isto significa uma boa perspectiva de vencer as eleições presidenciais de 2007...

Os chamados índios, quechuas e aymaras, condenados à extinção, ao extermínio, nossos antepassados, nossos avós, não tinham o direito de entrar ou caminhar pelas praças principais, não tinham o direito a caminhar nas calçadas. E agora estamos no Palácio Legislativo, a um passo do Poder Executivo. Temos decidido como queremos governar a nós mesmos.

Quantos deputados tem o MAS?

Dos 130 deputados, temos 27; dos 27 senadores, temos 8. Isto foi produto das eleições nacionais, nas quais fomos a segunda força política.

Sua figura no cenário boliviano tem sido duramente criticada pelo governo dos EUA. Como você vê essa reação?

Se o cão ladra é porque tem alguém andando, não é verdade? E o movimento dos povos nativos, o Movimiento al Socialismo, avança com firmeza para, primeiro, fazer de Evo Morales presidente em 2007, e, depois, para que o MAS seja o governo. Mas, na presidência, no governo, governará pelo poder do povo. Acredito apenas no poder do povo. Há firmeza, somos fiéis a esta proposta. A reação do Norte não nos assusta – felizmente, o povo perdeu o medo das ameaças do governo dos EUA.

Acredita que possa existir uma atitude intervencionista, mais agressiva?

Creio que este seja o espírito. Mas creio também que um governo boliviano deste tipo (popular) não estaria só. Existem hoje presidentes que estão com seu povo (aos quais somou-se, como uma grande esperança para os despossuídos, Tabaré Vázquez), um grande horizonte junto aos movimentos sociais e políticos para frear a soberbas do Império.
Considero essas declarações que vêm da Casa Branca como uma campanha, são ameaças, amedrontamento. Eles farão campanha para os outros candidatos (ao governo boliviano), mas acredito que não estão levando em conta a decisão do movimento popular de libertação do Império. Qualquer atitude mais agressiva não teria futuro. É assim que o Império agoniza no Iraque. Estou crente que o Iraque será o segundo Vietnã para os EUA -- assim como acredito que, caso Washington resolvesse intervir em Cuba, Venezuela, Argentina, Bolívia, Uruguai ou Brasil, seria um terceiro Vietnã.

Além do apoio dos setores camponeses e dos povos nativos, tem também o MAS recebido o voto de outros setores da sociedade, como o da classe média ou de empresários?

Sim, este tem sido um processo interessante. Dou como exemplo uma vez em que, andando pelas ruas com meus companheiros, em campanha, uma senhora da cidade, bem arrumada, se apresentou e me disse: “Vou te dizer: Evo, você não está preparado para governar”. Foi uma situação bastante agressiva. Não quis respondê-la do mesmo modo, e disse apenas “obrigado”. Então a senhora me disse: “Siga em frente, Evo, e vou votar em você porque você é honesto”. Vejo que a classe média, os intelectuais, vão se somando, incluindo empresários austeros, honestos. Estamos somando setores empresariais, agroindustriais...

Um governo do MAS precisaria do sustento de outros setores além do campesino...

Sim, neste momento o movimento campesino, dos povos nativos, é o mais importante. Antes era o movimento minerador, mas um governo do MAS abarcaria outros setores, claro...

Vocês estão propõem uma convocatória para a redação de uma nova Constituição?

Queremos refundar a Bolívia mediante uma Assembléia Constituinte. Refundar a Bolívia para unir o país. Refundar a Bolívia para eliminar a discriminação, a exploração, a marginalidade, a alienação. Refundar a Bolívia para vivermos unidos na diversidade. Somos diversos, mas formamos um mesmo país.

Você disse que teriam uns 30% dos votos, mas um apoio de 50%, porque muita gente não poderá votar na eleições ...

O grande problema que temos é o da documentação e identificação. Lembro-me de um caso familiar, na carteira de identidade do meu pai havia a data de seu nascimento. Eu estava me preparando para comemorar seu aniversário. Porém, ele não sabia se essa era a data de seu aniversário. Eu não entendia. Ele dizia que, assim como meus avós, não sabia em que dia havia nascido. “Inventei essa data para obter a carteira de identidade, explicou”. Há famílias que não sabem a data de seu nascimento, não possuem certidão de nascimento e, por isso, quando chegam as eleições não podem votar. Na campanha há companheiros que dizem: “Companheiro Evo, eu só sirvo para levantar a mão, mas para votar não”. Imagine. Para os partidos da direita não interessa documentar, porque se documentarem os pobres, isso será um voto contra eles mesmos. Nós queremos documentar, mas não temos como.

Outros movimentos populares, como o da revolução de 52, fizeram campanhas de documentação?

Minimamente nas cidades e em algumas províncias, mas não para todos. Claro, até 52, não havia voto universal. O voto universal tem custado sangue. Antes da revolução de 52 diziam que, como os camponeses não pagam impostos e não sabem ler, não podiam votar. Havia milhares de imposições e entraves. Consideravam a nós, campesinos da Nación Aymara, quase como animais e selvagens e, por isso, não poderíamos ter direito ao voto. Nos tem custado sangue conseguir o voto. Assim como o referendo vinculante também está custando sangue. Agora, não só temos o direito de decidir quem é o presidente, como também, temos o direito de decidir sobre o destino do país através do plebiscito.


Quais são os pontos mais importantes da nova Constituição que lhes interessa defender?

Primeiro, no regime econômico, acabar com o Estado concessionário, o Estado privatizador. No plano social, defendemos a equidade e igualdade no tema educação, moradia, saúde e trabalho. E quanto à estrutura política, reformulá-la completamente, para que o ser autoridade não seja servi-se do povo, mas um serviço para o povo, que é o que praticamos em nossa comunidade. E, fundamentalmente, buscar além de certo equilíbrio, potencializar os novos movimentos sociais a partir da nova Constituição e o debate sobre a demarcação.
Existe a região quéchua, região aymara, é preciso respeitar a nova demarcação política territorial da Bolívia. Além disso, vamos defender que os residentes bolivianos em outros países, como Argentina, Estados Unidos e Europa, tenham direito a votar nas embaixadas durante nossas eleições. Nós sempre defendemos isso, porém, não foi aceito até agora, porque essa gente foi embora da Bolívia para Argentina, Espanha e Estados Unidos em busca de empregos, justamente, pelas más políticas econômicas que foram implementadas em nosso país. Por isso, esses partidos de direita, o MNR, MIR e ADN sabem que, se for permitido a eles votar, serão votos contra eles. Esse será um dos nossos temas centrais na Assembléia Constituinte.

O MAS buscará alianças com outros partidos no caminho às eleições presidenciais?

Não nos interessa a aliança com outros partidos, buscamos aliança com os movimentos sociais da educação, das fábricas, estudantes, camponeses, mineiros, jornalistas e sindicatos de trabalhadores.

Como você enxerga o processo regional que tem se produzido com a chegada de governos de significado diferente aos de cinco anos atrás?


Entre os anos de 90 e 92, quando eu era dirigente sindical, um jornalista me perguntou o que eu pensava sobre Cuba. Eu respondi que um dia haveria muitas Cubas, com soberania, como Cuba libertada, nações que reivindicarão sua independência do império. Agora digo que me equivoquei. Temos nações como a Venezuela, temos inclusive o Brasil e o presidente Kirchner, que dignifica a posição dos argentinos. Agora soma-se o Uruguay com Tabaré Vázquez. Oxalá que um dia todos os países latino-americanos vivam com dignidade, com soberania e freando a soberba do império, como a de Bush e seu governo, que está orientado apenas para concentrar o capital em poucas mãos e a maioria que morra de fome.

Um governo do MAS se encaixaria também nesse processo?

Esperamos que sim, seríamos um governo dos povos originários, um governo totalmente distinto, porém, antineoliberal e antiimperialista, creio que um governo assim no cenário latino-americano aportaria essa faceta que, todavia, falta a esse processo que é a voz dos povos nativos. Todo o povo latino-americano está em processo de viver a unidade na diversidade. Somos brancos, morenos, negros, simpáticos ou feios como o Negro Morales ...

E como começou em você essa inquietude pelos movimentos sociais?

Eu jamais, jamais, havia pensado fazer política nesse nível, me converti em um referencial nacional e quem sabe internacional, é o que o governo dos Estados Unidos falaram de mim. Comecei por razões econômicas, de sobrevivência no Altiplano da nação aymara, da nação quéchua. Foi a necessidade de sobreviver e trabalhar e depois o impulso dos companheiros do sindicato agrário de camponeses de San Francisco, em Chapare, Cochabamba. Meu primeiro cargo foi de secretário de esportes do sindicato, que tinha 140 afiliados. Me chamavam de “jovem batedor”. Sábado e Domingo me dedicava ao futebol, e continuo me dedicando, mas agora, por problemas no joelho, não posso jogar por dois meses. Também jogo squash , não sou campeão, mas vou levando. O segundo cargo foi de secretário de atas e logo depois, secretário geral do sindicato. Em 88 estivemos na federação e em 92 fui presidente das seis federações de Cochabamba.

Seus pais tiveram alguma participação, discutiam política em sua casa?

Meu pai tem sido a autoridade originária, mayllku. Ele me dizia que se eu quisesse ser importante na vida, teria que respeitar os menores e maiores. Essa foi sua melhor lição. Eu me guio por três ou quatro coisas: respeito ao povo; quem sabe, perdoa; soberba contra o império, não provocador, mas por defender a nossa identidade, a nossa nação e aos pobres, porque, às vezes, tem que responder de igual para igual; honestidade, sinceridade e conseqüência. Essas foram bases para ter me tornado primeiro dirigente sindical e agora dirigente político.

Você também trabalhava no campo?

Claro, trabalhava como tropeiro, caminhava quilômetros para levar um rebanho de lhamas de um lugar a outro. Às vezes, enquanto caminhava com as lhamas, passava o ônibus. Os passageiros comiam laranjas e jogavam as cascas na ventania. Eu seguia comendo as cascas que recolhia. Sonhava em viajar um dia no ônibus comendo as laranjas. Agora parece mentira que faço esse trajeto de avião.

A primeira escola em que esteve foi aqui na Argentina?

Sim. Lembro-me que, entre 64 e 65, a colheita de cana na Argentina estava na moda. Havia um boliviano que recrutava trabalhadores para trabalhar no campo. Caminhamos a pé até uma estação de trem, em Ouro, onde pegamos um trem. Meus pais me trouxeram à Argentina, passamos por Villazón, La Quiaca e chegamos a Jujuy. Lembro-me que chegamos a um acampamento em Calilegua, ao lado de Ledesma. Meu pai trabalhou lá e todos os filhos dos trabalhadores eram mandados para escola. Haviam tratores e íamos neles para escola. Eu era um ayamara fechado e na escola não entendia nada. Foi minha primeira escola
primária.



sexta-feira

Trabalho: há avanços?

Erick da Silva*
Quando se debate sobre as condições atuais das relações de trabalho e como elas se relacionam, via de regra, se houve afirmações no sentido de que evoluiu para um novo e dinâmico estágio, onde as desigualdades gradualmente se superarão.
Ao se contestar este tipo de afirmação, de imediato se é tachado de “obtuso”, “jurássico” etc. No entanto, estes analistas que ocupam grande espaço nos meios acadêmicos e na grande mídia, observam apenas alguns fatores da evolução do mundo do trabalho, não o todo. De fato, houve avanços significativos no campo do desenvolvimento tecnológico dos meios de produção, a internet venho para encurtar barreiras e novas frentes de trabalho surgiram nos últimos 30 ou 20 anos.
No entanto, esta “modernização” venho acompanhada por uma onda global de desemprego, que em alguns países chega a tomar contornos estruturais. Como decorrência, a flexibilzação das relações de trabalho se ampliaram absurdamente, aumentando o grau de exploração e alienação do trabalho nas atividades profissionais. Esta alienação se demonstra pela “coisificação” do homem em sua relação social. Onde se expressa uma clara “distorção do universo histórico-social do homem em um universo do dinheiro e da mercadoria estranho e hostil ao homem, no qual a maioria da humanidade existe apenas com trabalhador 'abstrato' (isolado da realidade da existência humana), apartado do objeto de seu trabalho, forçado a vender a si mesmo como mercadoria.”(Herbert Marcuse).
E esta é uma realidade indissociável do “Modus operandi” do sistema capitalista. A pseudo-modernização das relações de trabalho advindas da globalização, não se confirmam na vida. Ficando apenas no campo das ilusões de quem as vende e/ou acredita nas mesmas. Pois, além de não ter se “modernizado” favoravelmente ao trabalhador, ainda tenta-se retroceder ao operar-se uma agressiva flexibilização global das relações de trabalhistas.
Um verdadeiro avanço se dará sob outros marcos. Isto poderá se concretizar, superando o caráter alienado do trabalho humano, onde mulheres e homens convertam-se em donos de seus destinos, dos meios de produção e de seu consumo. No qual todos tenham garantido o direito ao trabalho. E mais do que isso, o próprio direito a existência digna, visto que isto é muitas vezes brutalmente negado. Com os conhecimentos e as forças produtivas atuais, poderia-se permitir a satisfação das necessidades materiais e culturais essências da sociedade. É este o horizonte que devemos lutar para tornar realidade.
Erick da Silva é estudante do curso de história

terça-feira


A "nova" situação do trabalho

Erick da Silva
Muito tem se dito a respeito de situação atual do trabalhador, as condições de trabalho sobre certos aspectos evoluiu. Será que houve verdadeiros avanços?
Antes de analisarmos a situação do trabalho, resumidamente conceituaremos o trabalho. O trabalho é o ato através do qual o homem despende energia para transformar as condições que o cercam, com uma finalidade determinada. Para que o trabalho se faça possível, é necessária a ação do homem sobre matéria-prima.
Isto pode ser ao mesmo tempo um ato de emancipação - quando dirigido conscientemente para fins determinado; elaborados pelo intelecto e imaginação humana - como um ato de liberdade; ou ainda, ser um simples ato de sobrevivência, inconsciente - um meio para obter um fim imediato, que reproduz de forma cotidiana, mecanicamente, Para a grande maioria da população o ato de trabalhar tem sido isso. Um instrumento de luta pela sobrevivência, um meio e não um fim. O trabalho tornou-se meio de vida para grande maioria e meio de aglomerar riquezas.


O trabalho se torna fonte de sobrevivência precária para tantos e fonte de acumulação de riqueza para alguns. Isto se dá, quando poucos detentores de capital, não necessitam trabalhar, e sobrevivem apenas do trabalho alheio, os meios de sobrevivência para a grande maioria. O trabalho humano tem sido até aqui um trabalho alienado, esta alienação propicia o enriquecimento de um pólo, minoritário da sociedade – exatamente daquele que não produz. Esta é a alienação econômica, aquela ligada diretamente à exploração do trabalho de terceiros, vinculada à transferência de riqueza daqueles que criam para os que exploram, através das mais distintas formas, eles não decidem o que produzem, a que preço produzem, para quem produzem. Ao não possuir capital para produzir por conta própria seu trabalho, usando o poder de produção como meio para subsidiar a sobrevivência e não como um instrumento de transformação racional e consciente do meio que o cerca. A maioria dos trabalhadores não tem consciência de que ele é o produtor das riquezas da sociedade capitalista.

A luta para reverter este quadro opressor vem se dando há tempos. As condições de trabalho e a reversão da situação da exploração vigente são algumas das bandeiras históricas dos trabalhadores. Para que o capitalista possa obter riquezas ele ‘compra’ essa mercadoria cujo processo de consumo é simultaneamente um processo de criação de valor essa mercadoria é à força de trabalho humano. Através deste processo o possuidor do capital obriga o empregado a trabalhar horas excedentes, acima do valor real que produziu.
Este processo de exploração vem gerando insatisfação entre os trabalhadores desde meados do século XVIII, quando tinham que suportar jornadas de trabalho de até 18 horas/dia. A consciência da necessidade de organização foi surgindo à medida que crescia a indignação. Em todo mundo foram criados sindicatos e centrais sindicais de trabalhadores.

Em 1886, nos EUA com a palavra de ordem ‘ a partir de hoje nenhum operário deve trabalhar mais que oito horas por dia’, foi a conseqüência da 1ª Greve Geral. Reivindicando uma jornada de trabalho de oito horas diárias, os trabalhadores foram às ruas e enfrentaram a repressão policial. Dezenas de pessoas foram mortas, centenas foram espancadas e milhares foram presas.

Oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas de lazer. Era esta a principal reivindicação dos trabalhadores em 1886. Hoje, teoricamente a maioria dos trabalhadores trabalha oito horas/dia. Porém, a realidade não é assim, a exploração não diminuiu, se tem falando muito que com os avanços tecnológicos o tempo de trabalho se reduz propiciando assim uma nova economia, sendo assim, o homem finalmente terá tempo disponível para desfrutar a vida em sociedade e na família.

Infelizmente, isto não existe. O capitalismo corrói o caráter do emprego, sobretudo naquelas qualidades que une umas pessoas às outras, e dão a cada uma delas um senso errôneo de identidade. O capitalismo tardio conseguiu uma espécie de consumação final, o que havia sido idealizado pelos teóricos liberais ou pelos seus asseclas havia sido posto em prática: liberdade de mercado, diminuição da monopolização das estatais. O sistema entrando na experiência contidiana das pessoas, como sempre fez, com sucesso e fracasso, dominação e submissão, alienação e consumo. As condições de tempo no capitalismo atual criaram um conflito entre caráter e experiência.

As empresas ‘modernas’ têm experimentado inúmeros horários de trabalho. Em vez de turnos fixos, o dia de trabalho é um mosaico de pessoas trabalhando em horários diferentes e individualizados. Esse mosaico parece distante da rigorosa organização do trabalho clássico, como se a organização moderna combatesse a rotina padronizada. Mas a realização é bem diferente. Embora tenha surgido maior liberdade com relação ao turno, hoje o trabalhador está, ao contrario, envolvido numa nova trama de controle. O tempo flexível não é como o calendário de folgas, no qual os trabalhadores sabem o que esperar, tão pouco é comparável a um simples total de horas semanais que algumas empregadoras impõe aos seus empregados.

Se a flexibilização do tempo permite que o empregado trabalhe afastado da empresa em contrapartida, o põe sob controle íntimo da instituição. O modelo mais flexível das novas formas de organização, da jornada de trabalho, é o do trabalho fisicamente descentralizado. Trabalhar em casa é o último patamar do novo modelo e, é o que mais provoca ansiedade nas empresas. Paira a desconfiança que os que trabalham em casa abusam da liberdade, por isso, criou-se um grande número de maneiras de controlar o trabalho ausente.
A impressão da nova liberdade é enganosa. Exige-se que as pessoas telefonem regularmente para o escritório ou se comunique através de infra-rede para monitorar o trabalhador ausente. Os trabalhadores, assim trocam uma forma de submissão ao poder de corpo presente por outro, a submissão eletrônica.



O controle e a supervisão são muitas vezes maiores para os trabalhadores fora da empresa. A supressão do tempo livre ampliou-se, invadiu a privacidade das pessoas de maneira brutal pode-se dizer que o alcance da dominação da sociedade sobre o indivíduo é incomensuravelmente maior, todo o tempo, de toda família, é consumido direta ou indiretamente pelo trabalho. Não há tempo nem dinheiro para o lazer, nem para a vida cultural. Divertir-se é sentar-se em frente à televisão, o fim-de-semana serve apenas para recuperar as forças, para mais uma semana de trabalho. Podemos chamar isso de lazer?

É necessário discutirmos se é isso que queremos para as nossas vidas. Se é realmente esse o mundo que queremos, para onde os detentores de capital pretendem arrastar as pessoas e, ainda depois de usurparem tudo que nós conseguimos em lutas históricas?

Com os conhecimentos e as forças produtivas atuais poderiam permitir a satisfação das necessidades materiais e culturais básicas de toda a população mundial. Este problema poderá ser resolvido superando de maneira decisiva o caráter alienado do trabalho humano e, se a grande maioria das mulheres e dos homens se converterem em donos de seus destinos, de sua produção e de seu consumo, no qual todos tenham garantido o direito ao trabalho, uma sociedade mais justa e igualitária. A exploração do trabalho será reduzida positivamente, e o poderio econômico e igualmente se reverterá.

Dessa maneira, os meios de produção – máquinario, instalações, matérias-primas – seriam de propriedade democrática, ou seja, do conjunto da sociedade. Uma sociedade desse tipo choca-se frontalmente com o capitalismo, que tem na sua essência separação entre trabalho e capital, esta é o tipo de sociedade que queremos – e denomina-se socialismo. Baseando-se na socialização dos meios de produção, na decisão coletiva tomada democraticamente a respeito do que produzir, quanto produzir e para quem produzir.

Numa sociedade assim, elimina-se alienação do trabalho, fazendo dele não um instrumento de sobrevivência, mas de emancipação e libertação. Para isso, a população deve conquistar o poder de decidir seu destino de maneira consciente, livre e democrática. Este é o sentido de uma sociedade autogestionária e de uma civilização superior.


segunda-feira

Cartum da Semana:

Cartum de Pyotr Kulinich (Rússia)




terça-feira

Oh abre alas!

Fernanda Estima, Marcha Mundial das Mulheres


No dia 8 de Março, a Avenida Paulista se transformará na plataforma de lançamento para uma mensagem coletiva que mulheres de diversos cantos do mundo escreveram durante o ano de 2004. A destinatária da carta é a humanidade. E dentro do documento estão os princípios que as mulheres querem defender pelo mundo afora: igualdade, liberdade, justiça, paz e solidariedade.

Alas e alegorias com cores e adereços diferentes representarão, no asfalto da Paulista, o desfile da Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade, uma iniciativa da Marcha Mundial das Mulheres que dará início a um percurso mundial de protesto, denúncia e construção de alternativas pelos cinco continentes.

Para levar sua mensagem pelo planeta, a Marcha começa na Avenida Paulista uma jornada de revesamentos que levará a Carta de mãos em mãos, de região em região, de um povo a outro. De março a outubro de 2005, enquanto o documento circula, movimentos de mulheres de diferentes países pretendem realizar ações simultâneas contra o livre comércio, contra a guerra e militarização, contra o tráfico de mulheres e por soberania alimentar.
O documento pretende apresentar o mundo que as feministas querem construir, com diminuição das desigualdades, com políticas sociais universais garantidas e ampliação da cobertura dos serviços públicos de saúde, educação, saneamento básico e moradia; apresenta a violência cotidiana e a que é filha direta dos conflitos armados e faz um chamado pela paz.

Agenda radical e anticapitalista

Desde o seu surgimento em 2000 até agora a Marcha Mundial das Mulheres se consolidou como uma articulação feminista internacional. Nestes cinco anos construiu sua força e legitimidade organizando as mulheres em torno a uma agenda radical, feminista e anticapitalista. Neste trajeto sua estratégia foi fortalecer a auto-organização das mulheres combinando com a presença nos movimentos sociais. A perspectiva é a construção de um projeto de transformação da sociedade que incorpore uma visão feminista e as mulheres como sujeitos políticos.

A Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade é resultado de um longo processo de participação e convergência. Após ser debatida e modificada por grupos de mulheres em todos os continentes e pelas coordenações nacionais, foi adotada no 5º Encontro Internacional da Marcha, que aconteceu em Kigali, Ruanda, em dezembro de 2004.

O documento representa um acordo construído entre as coordenações nacionais de 50 países, dentre os quais, 35 estiveram representados em Ruanda. Coordenações nacionais, regionais, continentais a fortaleceram com afirmações e demandas que correspondem à sua realidade e momento organizativo. A Carta ganha vida em sua viagem ao redor do mundo. Ela se realiza na ação. E a própria ação muda nossa forma de ver o mundo e de como transformá-lo.

A abertura do texto já diz ao que veio: “estamos construindo um mundo no qual a diversidade é uma virtude; tanto a individualidade como a coletividade são fontes de crescimento; onde as relações fluem sem barreiras; onde a palavra, o canto e os sonhos florescem. Esse mundo considera a pessoa humana como uma das riquezas mais preciosas. Um mundo no qual reinam a igualdade, a liberdade, a solidariedade, a justiça e a paz. Este mundo nós somos capazes de criar”.

Nas ruas de São Paulo

Pelo menos 30 mil mulheres de São Paulo, do Brasil, do Quebec, Congo e Burkina Faso estarão na Avenida Paulista para o ato organizado com participação nacional dos vários setores do movimento de mulheres. São esperadas representantes de entidades sindicais, rurais, estudantes, sem teto, movimento de mulheres negras, partidos políticos. O trajeto da passeata, que sai da avenida Paulista em direção à Praça da República, será permeado por ações culturais e com as participantes dispostas em alas, cada uma delas representando os valores apresentados na Carta Mundial das Mulheres para Humanidade (ver box).

A marcha de revezamento se inicia com o lançamento das ações internacionais, em 8 de março, e termina sua viagem no dia 17 de outubro, quando ocorrerá mobilização internacional - 24 horas de solidariedade feminista mundial - na qual os países farão uma hora de ação (das 12 às 13 horas), percorrendo o sentido do fuso horário. Com esta ação as ativistas da Marcha pretendem demonstrar sua organização e capacidade de mobilização, ao mesmo tempo em que levarão às ruas as vozes e o chamado para a construção de um mundo de igualdade.

A proposta é que os países se mobilizem de março a outubro debatendo amplamente a Carta e realizando atividades. Ações simultâneas serão realizadas em torno das quatro questões definidas pelas participantes da Marcha.

Do Brasil para a Argentina

No dia 12 de março acontece a atividade Mercosul da Marcha Mundial das Mulheres, data da segunda parada da Carta, na cidade Porto Xavier (RS), na fronteira do Brasil com a Argentina. No ato as brasileiras “passam” a Carta às mulheres Argentina no Porto Internacional, às margens do Rio Uruguai, e contará com a participação de companheiras de organizações do Brasil (Rio Grande do Sul e Santa Catarina), Argentina , Paraguai e Uruguai.

No evento serão expostos alimentos, materiais trazidos pelas organizações, num caráter de economia solidária, além de atividades culturais, de formação, oficinas e debates, além do ato público, caminhada e plantio de árvores.

Ação simultânea: vigília contra a guerra

A partir da proposta das colombianas do Movimento Social de Mulheres Contra a Guerra da Colômbia, na noite do dia 4 de abril será realizada vigília contra a guerra. Essa será a primeira ação internacional simultânea que integra o calendário de mobilização da Marcha Mundial das Mulheres até outubro.

Na Colômbia esta jornada será realizada em áreas públicas de 14 cidades colombianas (Barrancabermeja, Neiva, Bogotá, Cartagena, Barranquilla, Popayán, Cali, Arauca, Bucaramanga, Cúcuta, Ibagué, Armenia, Putumayo, Quibdo), buscando gerar impacto social e político em favor da paz.

O objetivo é mostrar publicamente a resistência das mulheres e sua posição contra as guerras que somente causam morte e destruição e servem como tela de fundo ao saque dos recursos naturais no mundo inteiro, assim como sair às ruas para denunciar os Estados que desenham e desenvolvem a guerra contra civis indefensas, exigindo o fim da agressão.

A Marcha no Brasil também organizará uma vigília em solidariedade às colombianas e por ser a luta contra a guerra um dos temas apontados como importantes para o calendário de mobilização.

Colcha da Solidariedade Feminista

Durante a passagem da Carta cada país ou território ilustrará o mundo que queremos construir em um retalho de tecido que será costurado, juntando os pedaços de cada região iremos construir uma grande colcha da solidariedade feminista, que traduzirá em imagens a Carta Mundial das Mulheres em toda sua diversidade e seguirá como uma enorme bandeira de nossas lutas. O primeiro pedaço a ser apresentado será justamente o brasileiro, já que o lançamento da Carta será em São Paulo.

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