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quinta-feira


O presente de "fim de ano" do Rigotto

Erick da Silva*

Na terça-feira (28/12), foi aprovado em seção extraordinária na Assembleia Legislativa, o projeto de aumento do ICMS de autoria do Governo Rigotto. Esta foi a última ação do governo no ano de 2004, fechando com "chave de ouro" o seu segundo ano de gestão.
Desde que tomou posse, em janeiro de 2003, o Governador Rigotto tem tido um discurso permanente de queixa da suposta ausência de recursos e da debilidade financeira do Estado. Esta ausência tem sido usada pelo governador como desculpa para a ausência de ações concretas em seu governo.
Mas, mais do que a ausência de ações, tem também propiciado situações absurdas. O cancelamento de uma série de programas sociais do Governo Olívio (Primeiro Emprego, Família Cidadã, etc.) são um destes equívocos. Mas o pior foi quando, ainda em 2003, não pagou em dia o 13º salário do funcionalismo público e que neste ano repetiu a dose. Desde em tão, diversos setores da sociedade tem percebido a falta de planejamento do governo estadual para enfrentar a crise proclamada. Rigotto permitiu que a situação chegasse a este ponto, fato que a história recente do Rio Grande do Sul não havia registrado.
Em 2004, Rigotto marca a sua gestão pelo ineditísmo negativo. Entrou o segundo ano de seu mandato sem conceder aumento algum para o quadro geral do funcionalismo (magistério, brigada militar, etc.) e, por outro lado, deu aumento para os altos salários do Estado (Tribunal de Contas, Assembleia Legislativa, etc.). Demonstrando assim, uma clara opção política de favorecer os grandes e se esquecendo da maioria.
Agora, para supostamente reverter este quadro de paralisia, Rigotto brinda o Estado com um pacote de aumentos do ICMS, que irão onerar os contribuintes de maneira equivocada. O pacote aprovado concede aumentos nas tarifas de ICMS da telefônica (móvel e fixa), energia elétrica e combustíveis (gasolina e álcool) em 30%. Aumentando a carga tributária de maneira indiscriminada para toda a população, sem contar os aumentos indiretos nos preços que este tarifaço deverá acarretar.
De forma oportunista, alguns membros do atual governo tem comparado o atual aumento com a mudança na matriz tributária proposta no Governo Olívio, e rejeitada pela Assembleia Legislativa, é um erro grosseiro, pois a proposta do Governo Olívio propunha um aumento seletivo sobre produtos de caráter supérfluo (bebidas, cigarros) e reduzia o imposto sobre produtos essenciais. A mudança no ICMS do Rigotto vai justamente no sentido inverso, ao taxar áreas essenciais.
Sem contar a dupla falta de coerência do Rigotto, que se elegeu com discurso de que não aumentaria impostos, e faz justamente o inverso. E que aumenta os impostos para a população, alegando querer aumentar a receita do Estado, quando por outro lado concede isenções fiscais para as grandes empresas, através do FUNDOPEM, que ultrapassam a marca dos R$3,6 bilhões.
Faltou um mínimo de "criatividade" e de planejamento estratégico para os rumos do Estado. O problema da dificuldade de recursos do Estado não se resolverá da forma como o Rigotto tem tratado o tema. E quem pagara o ônus desta política equivocada é a população gaúcha.

Erick da Silva é acadêmico do curso de história

terça-feira

Humor:




quinta-feira

O recado de Caracas


O cientista político Theotônio dos Santos descreve o encontro de intelectuais e artistas encerrado na Venezuela dia 10 e recomenda, contra o terror do império, a “resistência moral e ativa” da humanidade

Theotônio dos Santos

No dia 10 de dezembro de 2004, em Caracas, intelectuais e artistas de todo o mundo reuniram-se em defesa da humanidade. Discutiram temas da segurança internacional sob o impacto da pretensão de domínio unilateral do mundo, e sua relação com as estruturas econômicas que presidem as relações entre as classes e grupos sociais, as nações e os Estados. Fizeram-no porque a humanidade precisa, antes que seja instaurado o abismo da confrontação global, encontrar o caminho do diálogo e da cooperação.
O Encontro de Intelectuais e Artistas em defesa da Humanidade reuniu jornalistas, poetas, ativistas dos movimentos sociais, artistas, políticos, cientistas sociais, profissionais, e literatos de mais de cinqüenta países, especialmente latino-americanos. O Prêmio Nobel argentino, Pérez Esquivel, foi o encarregado de ler o documento final resultante deste encontro cheio de debates de idéias e de estratégias de ação que possam gerar uma cultura de paz alternativa ao império da violência que se instaurou nas relações internacionais. Violência que é, sobretudo, resultado da recusa, pelos EUA, de submeter-se às leis internacionais e aos organismos encarregados de encaminhar um relacionamento pacífico entre os povos, especialmente a ONU.

Diálogo e convivência

O que mais aterroriza nesta conjuntura é a percepção do abismo que se aprofunda entre os ideais e métodos impostos pela nação mais poderosa da Terra ao “resto do mundo”. Por mais que o resto do mundo veja nas ações de violência impostas contra populações inteiras, obrigadas pelas armas mais poderosas, pela tortura, e pelas mais brutais humilhações a converter-se em “democracias”, a maioria dos eleitores da potência hegemônica apóia estes métodos, dando plena liberdade de ação àqueles que ameaçam a humanidade. É importante, porém, constatar a existência, dentro dos Estados Unidos, de uma forte oposição a estes métodos, como demonstrado pela expressiva participação de intelectuais e artistas do país no encontro.
O sentimento de impotência que nasce desta situação ameaça a humanidade a regredir a formas de relações sociais e humanas próximas da barbárie. Se anos e anos de desenvolvimento civilizatório forem jogados pela janela, quem guardará os princípios e métodos de diálogo e convivência humana que tanto se buscou aperfeiçoar, apesar dos obstáculos colocados pelas ambições das potências mundiais?
Perante esta situação, é necessário repensar o conjunto dos elementos que formam o sistema mundial e as formas de ação que permitem agir sobre ele. É bastante claro o papel crescente da sociedade civil e, sobretudo, dos setores de vanguarda dos movimentos sociais contemporâneos na geração de novos instrumentos de ação que detenham tais processos macro-sociais.

Uma rede de redes

Não há dúvida que os meios de comunicação ocupam um lugar privilegiado nestas ações. Cabe a eles gerar uma corrente de informações e análises capazes de neutralizar o império da violência nas relações internacionais. No entanto, o sentimento dominante é muito crítico em relação às mídias contemporâneas, pelo menos em suas formas dominantes.
São muitas as esperanças depositadas nas iniciativas e formas de comunicação alternativas como a internet, as TVs comunitárias, os jornais ligados a movimentos sociais, as formas culturais como os teatros de rua, os festivais de poesia, os espetáculos de massa, etc.
Uma das resoluções do encontro de mais efeito prático é a criação de uma rede de redes que terá uma coordenação a partir dos organizadores desta iniciativa. Da mesma forma, a proposta de uma rede de televisão do Sul, impulsionada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chaves, recebeu aplauso entusiasmado.
Iniciativas de integração regional, por mais limitadas que sejam, foram apoiadas firmemente. Às vésperas da reunião de Ayacucho, para dar início a uma Comunidade de Nações Sul-americanas, o encontro da Venezuela chamou a atenção para a necessidade de concretizá-la de baixo para cima, com forte participação dos povos da região. O sentimento de uma união de inspiração bolivariana produziu uma identificação muito importante com a experiência em curso na Venezuela. É impressionante ver como neste país se desenvolvem novas formas de consciência e de participação popular baseadas no sentimento de unidade continental e latino-americana.
No coletivo tão diferenciado do encontro, evidenciou-se uma tendência de apoio a iniciativas como a empresa latinoamericana de petróleo que a Venezuela propõe e várias outras no mesmo sentido. É surpreendente constatar a força que as idéias de cooperação regional têm, apesar de todas as dificuldades históricas que esses povos tiveram para poder atuar em conjunto. Não há como deixar de constatar que a identidade cultural do “latino” , como dizem os estadunidenses, é uma força moral profunda que ganha consistência especial quando recebe suporte estatal.
Eu sugeriria ao leitor que não considere esta iniciativa como mais uma reunião entre as muitas que se realizam em nossos dias. Vale a pena acompanhar com carinho o desdobramento destes primeiros passos, na realidade iniciados no México, na memorável reunião de Polyforum Siqueros, este templo escultórico dedicado à marcha ascendente da humanidade. Parece que as forças da destruição, da exploração e do terror vão defrontrar-se cada vez mais com a resistência moral e ativa dos povos. Isto se revela nos campos de batalha e nos embates políticos e diplomáticos, mas se manifesta também nas iniciativas culturais que cimentam as relações sociais e entre os povos.

Theotônio dos Santos é professor titular da UFF, coordenador de rede da Unesco, e da ONU sobre Economia Global e Desenvolvimento Sustentável.

Publicado em
www.planetaportoalegre.net

quarta-feira

Quem tem medo da memória?
Marco Aurélio Weissheimer

A polêmica criada em torno do tema dos arquivos da ditadura revela que a memória ainda é um tabu no Brasil. Mais do que um tabu, na verdade, ela é considerada como um elemento perigoso. E, de fato, pode ser. A história da ditadura militar que mergulhou o país em duas décadas de repressão ainda permanece nas sombras. Assim como outros períodos importantes da história nacional. O esquecimento e a negação da memória têm sido um traço marcante no comportamento das elites brasileiras. O passado é visto como uma presença incômoda que deve ser soterrada em nome da tranqüilidade do presente. Tranqüilidade para quem, deve-se perguntar. Uma pessoa, uma cidade, um povo ou um país que desconhece sua história e esquece seu passado, caminha sem rumo para o futuro. Tirar a nossa memória das sombras pode ser a decisão que falta para o Brasil começar a trilhar outros caminhos. Uma tarefa que vem sendo permanentemente adiada.
Adiar tarefas necessárias é uma prática facilitada pelo exercício do esquecimento. Ao esquecer quem somos, qual é a nossa história e como chegamos até aqui, tudo se passa como se estivéssemos sempre recomeçando do zero. Essa ideologia do esquecimento costuma vir acompanhada da promessa de um futuro grandioso que estaria logo ali na frente se conseguíssemos frear o desejo de olhar para trás e testemunhar a caminhada percorrida. A política brasileira é impregnada por essa cultura. Os pedidos na linha "esqueçam o que disse", "esqueçam o que fiz", "o importante é olhar para a frente e não para trás", "não devemos dirigir olhando para o retrovisor", seguem habitando e estruturando discursos e práticas. Como um fantasma apavorante, o passado segue sendo alvo de exorcismos diários, à esquerda e à direita.
O valor de verdade da memóriaUma boa pista para entender a natureza deste processo recorrente de exorcismos pode ser encontrada numa passagem do livro "Eros e Civilização", de Herbert Marcuse. Na primeira parte do texto, "Sob o domínio do princípio de realidade", Marcuse fala, entre outras coisas, do papel da "recordação das coisas passadas como veículo de libertação". A referência aí é, obviamente, o pensamento de Freud. Marcuse assinala que se a memória ocupa um papel central na psicanálise como um modo de cognição, isso tem a ver com o "valor de verdade" da memória. Em que consiste esse "valor de verdade"? Marcuse responde: "o seu valor de verdade reside na função específica da memória, que é a de conservar as promessas e potencialidades que são traídas e até proscritas pelo indivíduo maduro, civilizado, mas que outrora foram satisfeitas, em seu passado remoto, e nunca inteiramente esquecidas".
Se é assim, uma pergunta se impõe imediatamente. Em que sentido, uma reabertura dos arquivos da ditadura militar, uma "recordação das coisas passadas", nos diria algo, não só acerca de um passado recente, mas sobretudo do nosso presente e das linhas gerais do futuro que nos aguarda? Quais foram mesmo as promessas e potencialidades traídas e proscritas pelas cerca de duas décadas de regime militar? Ou ainda, e mais fundamentalmente: em que sentido resgatar essa memória perdida implicaria riscos para o presente e o futuro do país?
Se a memória tem um conteúdo cognitivo, ou seja, se ela tem algo a nos ensinar sobre nosso presente, sobre quem somos hoje, sobre nossas escolhas atuais e sobre o modo como nos movemos no mundo, por que encará-la como um inimigo perigoso?
As promessas traídasHá vários caminhos para abordar esse conjunto de questões. Um deles é enfocar o tema das promessas e potencialidades traídas. O golpe militar de 1964, nunca é demais lembrar, foi patrocinado pelas elites econômicas e políticas brasileiras que viam no governo João Goulart uma ante-sala para a instalação de um regime comunista no Brasil. No caldo cultural da Guerra Fria, as propostas de reformas de base propostas pelo governo constitucional de então foram atropeladas por tanques e fuzis, sob o aplauso entusiasmado de empresários, fazendeiros e grande parcela da Igreja Católica e da classe média.
Não é o caso, aqui, de reconstituir a gênese e as motivações da interrupção da jovem e frágil democracia brasileira, mas é bom lembrar que, entre outras coisas que foram golpeadas, estava o desejo de construir um país mais justo, livre e soberano. Veio a ditadura, o país sofreu profundas transformações econômicas, milhares de pessoas perderam direitos, dignidade e a própria vida. E, sobretudo, os ricos continuaram mais ricos e os pobres continuaram mais pobres, movimento que perdura até hoje, mesmo com outro desenho constitucional.
O Brasil se viu livre da ameaça comunista e se viu livre também das promessas de construção de uma República que mereça este nome. Do ponto de vista republicano, caminhamos para trás, um recuo cuja interrupção permanece também sendo uma promessa. Não é difícil constatar, portanto, que recordar essas "velhas coisas passadas" significa, entre outras coisas, lançar um olhar crítico sobre a estrutura de poder político-econômico (e militar, portanto) que segue, com inflexões diferenciadas, ditando os rumos do país. Mais uma vez, o texto de Marcuse pode ajudar a iluminar o que está em jogo nesse espaço de promessas traídas e proscritas. "O passado redescoberto", escreve, "produz e apresenta padrões críticos que são tabus para o presente". O peso dessas descobertas, acrescenta, tem o potencial de "despedaçar a estrutura em que foram feitas e confinadas". Ou seja, conclui, a libertação do passado não termina com a sua reconciliação com o presente.
A força explosiva dos mortosAqueles, portanto, que vêem na reabertura dos porões sombrios da memória nacional recente um elemento explosivo capaz de sacudir os atuais arranjos institucionais estão justificados a expor esse temor. De fato, se a libertação do passado não implica sua reconciliação com o presente, isso quer dizer que ela (a libertação) aponta para uma orientação sobre o futuro, uma nova orientação. Não é acidental que tantos governantes brasileiros, uma vez chegando ao poder, apressem-se em repetir discursos que fazem a apologia do esquecimento, esquecimento do que foi dito, do que foi feito e também daquilo que não foi.
Se tudo isso é razoável, somos levados a uma conclusão que pode ser perturbadora para muitos espíritos. Levar o tema da memória a sério, encará-la como uma tarefa estratégica tão importante para o desenvolvimento do país como a manutenção de uma política fiscal responsável, pode libertar elementos desestabilizadores do atual esquema de poder.
Trazer os mortos à luz teria, assim, uma força explosiva, talvez insuportável. Empreender uma busca do tempo perdido, observa ainda Marcuse, converteria-se, deste modo, em um veículo para uma futura libertação. E essa conversão estaria alicerçada em mais um conjunto de perguntas incômodas. Em nome do que mesmo estamos autorizados a patrocinar crimes, torturas e assassinatos? Que nome dar ao silêncio e à cumplicidade diante desses crimes? Por que dar nome aos mortos implicaria um fator de desestabilização da República? Ou, de um modo mais geral, por que dar nome às coisas representa um perigo para a ordem vigente, seja ela qual for?
O que essas perguntas indicam é que o tema da abertura dos arquivos da ditadura está longe de ser um tema menor. Pelo contrário, é um assunto que toca no coração do poder, um poder que se adapta permanentemente aos novos tempos e cuja adaptação exige sempre o encarceramento da memória. Os agentes protagonistas do poder sabem disso há séculos e não é por outra razão que ligam as sirenes quando alguém se atreve a falar sobre a importância da recordação das coisas passadas. Freud explica ou, ao menos, indica um bom caminho para essa explicação.

Marco Aurélio Weissheimer é jornalista da Agência Carta Maior

terça-feira

Coisas raras
Eduardo Galeano
No ano de 2002, Clint Mathis, estrela do futebol dos Estados Unidos, anunciou que sua seleção ia ganhar o campeonato do mundo. Era lógico, era natural, como explicou, “porque nós somos o país líder em tudo”. O país líder em tudo terminou em oitavo lugar.
No futebol ocorrem coisas raras. Num mundo organizado para a cotidiana confirmação do poder dos poderosos, nada é mais raro que a coroação dos humilhados e a humilhação dos coroados; mas no futebol, às vezes, essa raridade acontece.
Para começar, no ano de 2004 um clube palestino foi campeão em Israel, pela primeira vez na história, e pela primeira vez na história um clube checheno foi campeão na Rússia. E na Olimpíada da Grécia, a seleção de futebol do Iraque, em plena guerra, venceu várias partidas e chegou a disputar as semifinais do torneio, de surpresa em surpresa, contra todos os prognósticos e contra todas as evidências, e foi a número um no fervor popular.
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O clube árabe Bnei Sakhin e o clube checheno Terek Grozny, vistosos campeões de Israel e da Rússia, têm algumas coisas em comum com a seleção nacional do Iraque.
Trata-se de equipes que de alguma maneira representam povos que não têm o direito de ser o que querem ser, que padecem da maldição de viver submetidos a barreiras alheias, despojados de sua soberania, bombardeados, humilhados e empurrados ao desespero.
E como se isso fosse pouco, as três são equipes modestas, desconhecidas ou quase, sem nenhum jogador famoso, e pobres. Em realidade, nem sequer têm estádio. Nunca jogam em casa, nunca são mandantes. São equipes errantes, condenadas a jogar em terras estranhas e diante de arquibancadas vazias. Na aldeia de Sakhnin, na Galiléia, nunca houve estádio ou coisa semelhante, ainda que o governo israelense o tenha prometido várias vezes. O Terek jogava no estádio de Grozny, que está fechado desde que os separatistas chechenos colocaram, ali, uma bomba sob a poltrona do presidente imposto pelos russos. E no Iraque só existem campos de batalha. Já não restam campos de futebol. As tropas de ocupação, que a esta altura já esqueceram os pretextos de sua invasão criminosa, têm convertido os espaços desportivos em hospitais ou cemitérios. Onde ficava o estádio de Bagdá, existe agora uma base militar que hospeda os tanques dos Estados Unidos. A seleção iraquiana treinou em campos onde pastavam os rebanhos de ovelhas.
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Um símbolo poderoso, um assunto misterioso: não se sabe por quê, embora não faltem teorias, mas é fato que no mundo de nosso tempo, muita gente encontra no futebol o único espaço de identidade no qual se reconhece, e o único no qual realmente acredita. Seja como for, pelos motivos que forem, a dignidade coletiva tem muito a ver com a viagem de uma bola que anda pelos caminhos do ar.
E não me refiro só à comunhão que o torcedor celebra com seu clube a cada domingo nas arquibancadas do estádio, mas também, e sobretudo, ao jogo jogado nos terrenos baldios, nos campinhos, nas praias, e nos poucos espaços públicos ainda não devorados pela urbanização enlouquecida. Enrique Pichon Riviére, psiquiatra argentino, amoroso estudioso da dor humana, havia comprovado a eficácia do futebol como terapia para as patologias derivadas do desprezo e da solidão. Este esporte compartilhado, que se desfruta em equipe, contém uma energia que muito pode ajudar a aprender a gostar de si os desprezados, e a salvar-se da solidão os que parecem condenados à incomunicabilidade perpétua.
É muito reveladora, neste sentido, a experiência de Austrália e Nova Zelândia. Ali, as línguas nativas não conheciam a palavra “suicídio”, pela simples razão de que o suicídio não existia na população aborígine. Ao fim de alguns séculos de racismo e marginalização, a violenta irrupção da sociedade de consumo e seus implacáveis valores conseguiram fazer com que os indígenas decidissem se enforcar. Nos últimos anos, suas crianças e jovens têm registrado os índices de suicídio mais altos do mundo.
Diante desse panorama aterrador, de tão profundas raízes, de raízes tão estragadas, não existem fórmulas mágicas para a cura. Mas em algo coincidem os testemunhos da linda gente que trabalha contra a morte. São surpreendentes os resultados desta terapia capaz de devolver os sentimentos perdidos de pertencimento e fraternidade: o esporte, e sobretudo o futebol, é um dos poucos lugares que oferecem refúgio a quem não encontra lugar no mundo, e muito contribui para o restabelecimento dos laços de solidariedade partidos e para a cultura do desvinculo que hoje em dia manda na Austrália, na Nova Zelândia, e no mundo.
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Não é um milagre químico. Estão dopados pelo entusiasmo e pela alegria. Melhor dito: dopadas. Os onze jogadores de cada equipe são muito mais que onze. Melhor dito: as onze jogadoras. Neles, joga uma multidão. Melhor dito: nelas. Estes são rituais de afirmação dos humilhados. Melhor dito: das humilhadas.
Pouco a pouco, o futebol das mulheres vem ganhando espaço nos meios dedicados à difusão desse esporte de machos para machos, que não sabe o que fazer com esta imprevista invasão de tantas senhoras e senhoritas.
A nível profissional, o desenvolvimento do futebol feminino encontra, hoje em dia, certa ressonância. Mas não encontra eco nenhum, ou desperta ecos inimigos, no jogo que se pratica pelo puro prazer de jogar.
Na Nigéria, a seleção feminina é um orgulho nacional. Disputa os primeiros lugares no mundo. Mas no norte muçulmano os homens se opõem, porque o futebol convida as donzelas à depravação. Mas terminam por aceitá-lo, porque o futebol é um pecado que pode outorgar fama e salvar a família da pobreza. Se não fosse pelo ouro que promete o futebol profissional, os sacerdotes proibiriam essas roupas indecentes impostas por um satânico esporte que deixa as mulheres estéreis, por lesão do jogo ou castigo de Alá.
Em Zanzibar e no Sudão, os irmãos varões, guardiões da honra da família, castigam com surras esta louca mania de suas irmãs que se crêem homens capazes de chutar uma bola, e que cometem o sacrilégio de descobrir o corpo. O futebol, coisa de machos, nega às mulheres campos de entretenimento e de jogo. Os homens se negam a jogar contra as mulheres. Por respeito à tradição religiosa, dizem. Pode ser. Além disso, ocorre que a cada vez que jogam, perdem.
Na Bolívia, do outro lado do mar, não há problema. As mulheres jogam futebol, nos povos do altiplano, sem desnudar suas numerosas polleras. Vestem por cima uma camiseta de cores e sem demora põem-se a fazer gols. Cada partida é uma festa. O futebol é um espaço de liberdade aberto às mulheres cheias de filhos, oprimidas pelo trabalho escravo na terra e nos teares, submetidas às freqüentes surras de seus maridos bêbados. Jogam descalças. Cada equipe triunfante recebe de prêmio uma ovelha. A equipe derrotada, também. Estas mulheres silenciosas riem às gargalhadas por toda a partida e depois seguem morrendo de rir por todo o banquete. Festejam juntas, vencedoras e vencidas. Nenhum homem se atreve a meter o nariz.
Tradução: Tiago Soares

Publicado em www.planetaportoalegre.net

segunda-feira

Cartum da Semana:

Cartum de autoria do Rico.




quinta-feira

Cartum da semana:

Cartum de autoria de Angeli.




quarta-feira

O Brasil não entenderá a Venezuela
Emir Sader

Apenas umas dezenas de milhares de brasileiros, no máximo, devem ter visto o filme “A revolução não será televisionada”, feito por irlandeses sobre o golpe contra o governo de Hugo Chávez em abril de 2002. O excelente documentário foi projetado dezenas de vezes, mas nos canais com menos audiência – a TV Senado, entre eles.
Tendo ido à Venezuela para fazer uma reportagem sobre a situação interna no país, os irlandeses puderam presenciar o clima no Palácio Miraflores, sede do governo venezuelano; mas depois puderam também testemunhar o golpe, a posse do efêmero governo, o papel da imprensa privada e o incrível desenrolar dos acontecimentos, em que a mobilização popular levou Chávez de novo ao poder. É um desfecho inédito na América Latina, depois de cenas de golpe conhecidas por nós, em 1964 pelos chilenos, em 1973 pelos uruguaios e em 1976 pelos argentinos, em que os golpistas, apoiados pela grande mídia privada, triunfaram. Pela primeira vez a reação popular – apoiada pela baixa oficialidade das forças armadas – derrotou os golpistas.
O documentário tira seu título do fato de que as empresas privadas, que detêm o monopólio da mídia naquele país, noticiaram o golpe mas, a partir do momento em que o povo invadiu o palácio presidencial e recolocou Hugo Chávez no governo, todos os canais suspenderam a sua cobertura, substituída por desenhos animados. Os espectadores venezuelanos não foram informados sobre o desfecho do golpe e sobre o protagonismo popular. A mídia privada, que tem no magnata Gustavo Cisneiros seu principal proprietário, foi o partido político do golpe, que levou ao presidente da federação das indústrias efemeramente ao governo. Revelando o caráter classista e entreguista do golpe, foi imediatamente decretada a dissolução das instituições eleitas pelo povo e se anunciou o processo de privatização da PDVS, a empresa petrolífera.
Um dos casos mais escandalosos de utilização totalitária do monopólio privado da mídia praticamente passou batido da imprensa brasileira. Exceção foram as coberturas feitas pela revista Carta Capital e pela Agência Carta Maior e, no caso da Folha de S.Paulo, os relatos de Clovis Rossi que, tendo estado lá, se deu conta do escândalo.
A cobertura posterior da imprensa brasileira impediu que os leitores e espectadores soubessem o que seguia acontecendo na Venezuela. Por isso foram pegos de surpresa com a vitória inquestionável de Hugo Chávez no plebiscito. Não poderiam saber como um governante desqualificado com os clichês da guerra fria pela imprensa brasileira tinha conseguido derrotar o monopólio privado da mídia e a oposição, apoiado pelo governo Bush e que contava com a solidariedade corporativa de quase toda a mídia latino-americana e de outros lugares do mundo.
Esse exemplo de péssimo jornalismo continua. Uma dentre tantas matérias, a publicada nesta semana pelo jornal Folha de S.Paulo, é um bom exemplo desse jornalismo ditatorial. Assinado por Carolina Vila-Nova e escrito desde a redação da FSP, o texto revela que a jornalista repete simplesmente o que as agências internacionais publicam diariamente sobre a Venezuela. Ela escreve que a lei de regulação dos meios de comunicação – aprovada pelo Congresso venezuelano sob o efeito direto da ação totalitária do monopólio privado da mídia no golpe, assim como na incitação cotidiana à violência, incluído o assassinato de Hugo Chávez – “passou sob críticas generalizadas”. Usa-se o sujeito oculto – de que os editorais e as matérias editorializadas usam e abusam – sem dizer “quem” faz as “críticas generalizadas” e por que “generalizadas”. Se consulta-se a imprensa diária e todos os canais privados da televisão, pode-se ter essa impressão; mas haveria que dizer que trata-se de uma imprensa totalmente nas mãos dos grandes grupos monopólicos privados.
Se compram as versões dos monopólios privados da mídia como elas são vendidas e, quando se trata de dar – em um espaço sempre visivelmente menor, só para cumprir como o “Manual” – a versão do outro setor, majoritário, conforme resultado do plebiscito e das eleições posteriores, a forma de relatar é totalmente outra: “O presidente acusa as emissoras de terem apoiado a tentativa de golpe de 2002.” Enquanto se compromete com a versão da mídia privada, no caso, evidente, do golpe, atribui as acusações ao presidente venezuelano. Tenta assim passar a idéia de que há críticas generalizadas ao projeto aprovado pelo Congresso venezuelano, enquanto de outro lado há apenas uma acusação.
Se a jornalista em vez de ficar colada aos despachos das agências internacionais conversasse com Clovis Rossi ou tivesse visto o filme irlandês ou lesse órgãos que dão versões diferentes daquelas que usualmente são utilizadas na grande mídia privada, saberia que as coisas são bem diferentes ou, pelo menos, que há outra visão das coisas. Visão que, embora conflitante com os interesses das grandes corporações midiáticas, tem que ser relatada aos leitores caso se queira manter, pelo menos na aparência, um tom minimamente democrático na informação.
Se algum jornalista da FSP tivesse, ao ir à Venezuela, assistido a algum dos canais públicos, veria uma entrevista com um artista desse país, que vive em Caracas – mas que concedeu a entrevista em Miami. Ele prega que “se abata os animais”, especialmente “o animal maior”; relata que “existem excelentes fuzis com mira” e que se pode “contratar comandos israelenses”. Poderiam relatar o caráter truculento da mídia privada e saber porque o Congresso aprovou a lei de regulação dos meios de comunicação.
A depender da grande mídia privada brasileira, os brasileiros não compreenderão o que acontece na Venezuela. Os que quiserem compreendê-la, têm que buscar ler Carta Capital, Carta Maior, Caros Amigos, Correio da Cidadania, Reportagem e outros órgãos da imprensa independentemente. Recomenda-se especialmente a Carolina Vila-Nova e a todos os jornalistas brasileiros.

Emir Sader , professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é coordenador do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj e autor, entre outros, de “A vingança da História".
Fonte: Carta Maior

segunda-feira


A revolução dos idiotas

Maria da Conceição Tavares

A idiotia dos economistas vem se espalhando pelo mundo, quer se trate de operadores financeiros, "cabeças de planilha" ou replicantes de professores medíocres das escolas americanas. Nos últimos 20 anos ocuparam espaços e posições crescentes nas inúmeras redes de poder global (mercados, burocracias e mídia) o que lhes dá bases de sustentação e de cooptação material e ideológica sem precedentes. Percebendo-se a si mesmos como maioria deram lugar à "revoluções dos idiotas" a que Nelson Rodrigues se referia numa de suas crônicas (desculpe Paulo Nogueira o uso de sua referência predileta).
No Brasil as discussões de políticas públicas (copiadas de velhos e novos relatórios do FMI e do Banco Mundial) viraram slogans: "Combater a pobreza sem comprometer o ajuste fiscal"! "Gasta-se muito e mal no social"! Os nossos economistas de plantão agregam à submissão financeira a submissão cultural. Este ano, com o crescimento tendendo a zero e a inflação caindo rapidamente, a nossa secretaria do Tesouro produziu um superávit fiscal primário superior à meta acordada com o FMI. Mais realistas que o Rei acham que isto aumenta a nossa credibilidade no exterior! Para negociar um acordo melhor com o Fundo? Não há evidências.
A idiotia dos acadêmicos anglo-saxões não é menor. Em plena recessão mundial, os neo-keynesianos bastardos recomendaram uma diminuição dos déficits fiscal e do balanço de transações correntes e um aumento da "poupança interna" dos EUA! Poucos se deram conta de que os superávits comerciais dos países asiáticos têm uma relação complementar com os déficits americanos e foram acompanhados de uma enorme acumulação de reservas em dólar, sobretudo no Japão, na China e nas maiores praças financeiras abertas. Evidentemente, o FED e o Tesouro, não seguem seus acadêmicos. Sabem que a dívida pública americana pode se expandir aceleradamente com qualquer resultado das contas fiscais e do rendimento dos títulos do Tesouro americano, enquanto o dólar for a moeda dominante nos mercados financeiros globais.
No Brasil, como em outros países periféricos devedores, a situação é evidentemente oposta e não podemos imitar os países credores da Ásia nem o maior devedor mundial, os EUA. Assim a nossa restrição de balanço de pagamentos continua, ao contrário do que julgavam os "gênios" do Plano Real. Políticas cambiais irrealistas não ajudam a manter saldos de transações correntes sustentáveis. Uma taxa de câmbio apreciada é em geral provocada pela manutenção de juros altos muito superiores aos exigidos no mercado internacional nos ciclos de expansão de liquidez internacional. Significa menor capacidade de sustentar o saldo comercial, mas estimula a entrada de capitais especulativos. A situação reverte-se com qualquer aperto de liquidez ou aumento do risco global dos mercados financeiros mundiais e provoca uma nova crise de balanço de pagamentos, tornando-nos periodicamente prisioneiros de acordos com o FMI.
Os apologetas do câmbio livre continuam achando que a taxa de câmbio flutuante encontrará o seu "ponto de equilíbrio". Não se perguntam, é claro, equilíbrio para qual das contas: a de transações correntes ou a de capitais recheadas de passivos de curto prazo? O excelente resultado do saldo comercial de 2003 sobe-lhes à cabeça, esquecidos de que se deve em parte à própria recessão industrial interna, à melhoria dos preços das nossas "commodities" de exportação e à conquista de novos mercados, esta apoiada pela desvalorização do dólar em relação ao euro. Não se trata, portanto, de uma trajetória estável em que o câmbio flutuante e os mercados financeiros "livres" resolvam as contradições da nossa restrição externa ao crescimento sustentado.
Outra marca registrada dos nossos economistas-financistas tem sido atacar as instituições públicas de crédito e fomento (o BNDES na frente), depois de tentar privatizá-los. Afirmam que falta no Brasil um "mercado de capitais" para crescer mais rápido. No entanto nem a economia americana que possui o mais amplo e profundo mercado de capitais do mundo foi alimentada por ele em forma sustentada, já que as bolhas especulativas interromperam dois ciclos de crescimento. Imagine-se o nosso "mercado" raso (povoado de piranhas), financiando o investimento industrial e em infraestrutura!
A discussão sobre a duração de nosso ciclo de consumo comparando-o com o americano (os chamados vôos da águia e da galinha) também está fora de lugar porque os dados relevantes não são levados em conta. Os níveis de renda de 80% da população americana estão acima de um salário mínimo de U$ 1000 mensais enquanto os nossos 20% mais ricos partem de um patamar de R$ 600,00. Os volumes de crédito em relação ao PIB, a capacidade de endividamento e as taxas de juros baixíssimas e muitas vezes negativas para repactuar os contratos de dívida das famílias americanas não são comparáveis com os volumes de crédito e os spreads bancários brasileiros. Finalmente, esquecem o aumento considerável dos gastos com transferências sociais (sobretudo saúde e previdência) nos períodos recessivos das últimas duas décadas, ao contrário do que aqui se pratica e proclama como "boa política social".
Alguns economistas críticos, que escaparam do massacre ideológico e das benesses mercantis da década de 90, parecem a ponto de soçobrar na desesperança ou no voluntarismo que decorre da raiva. É preciso limpar as cabeças e parar de ouvir o ruído insuportável da cacofonia veiculada pela mídia. Não para se resignar e "beijar a cruz" e sim, como sempre, para tentar enfrentar a realidade e continuar a luta.

sexta-feira

Cartum da Semana:




terça-feira


O mito da globalização na América Latina

Erick da Silva*

O ideário da "via única" e do "fim da história" tem se mostrado ainda com força e forte penetração. Principalmente quando se discute o modelo de desenvolvimento econômico para a América Latina e alternativas a globalização neoliberal.
Os ideólogos do neoliberalismo não se furtam em vender como verdade absoluta afirmações como "a globalização não é um processo imperialista. A sua principal característica é apoiar a incorporação das sociedades atrasadas aos benefícios da sociedade de mercado." Para estes, opor-se a globalização é opor-se ao progresso e a uma situação irreversível.
No entanto, esta afirmação busca esquecer o processo de internacionalização da produção, os mercados, o trabalho e o consumo, da lógica do capital como relação social. Se apresenta como início de um novo período histórico no qual o passado já não condiciona as políticas de modernização. Todo um histórico de desenvolvimento dependente, de expropriação da riqueza dos países latino americanos por parte dos países imperialistas seria ignorado. O que se configura em um erro central na análise do processo econômico internacional, como bem apontava Celso Furtado.
Iguala países com diferenças estruturais. Aqueles que sofrem as condições de um colonialismo e uma exploração global com os países que a impulsionam, oculta os fundamentos de uma ordem internacional baseada na exploração e na desigualdade. Esconde a pressão e o poder exercido sobre os governos latino americanos por parte dos organismos internacionais dos países dominantes, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, para imporem suas políticas condicionadas a concessão de empréstimos econômicos. Ferindo o princípio de autonomia das nações quanto a sua política interna e externa.
Este modelo de globalização e suposto livre mercado, na prática, tem se constituído como uma via de mão única. Onde os países centrais obstaculizam a entrada de produtos comerciais da periferia em seus territórios e pressionam e impõem a sua lógica para com os demais. A consumação desta política passa, por fim, em implementar a ALCA e bloquear a possibilidade de um desenvolvimento autodeterminado por parte dos países latino americanos.
Em suma, é necessário que se desmistifique esta falsa idéia de globalização como "remédio" para todos os problemas de subdesenvolvimento na região. Pois, na prática, a situação é justamente o contrário. A solução passa pela afirmação de uma política independente e soberana, que vise a construção de um desenvolvimento econômico focado na inclusão social e que busque um "caminho" que fuja dos receituários neoliberais que tantas mazelas tem causado em escala mundial.

Erick da Silva é estudante do curso de História

sexta-feira

Teses sobre o conceito de História
Walter Benjamim
1
Conhecemos a história de um autômato construído de tal modo que podia responder a cada lance de um jogador de xadrez com um contralance, que lhe assegurava a vitória. Um fantoche vestido à turca, com um narguilé na boca, sentava-se diante do tabuleiro, colocado numa grande mesa. Um sistema de espelhos criava a ilusão de que a mesa era totalmente visível, em todos os seus pormenores. Na realidade, um anão corcunda se escondia nela, um mestre no xadrez, que dirigia com cordéis a mão do fantoche. Podemos imaginar uma contrapartida filosófica desse mecanismo. O fantoche chamado "materialismo histórico" ganhará sempre. Ele pode enfrentar qualquer desafio, desde que tome a seu serviço a teologia. Hoje, ela é reconhecidamente pequena e feia e não ousa mostrar-se.

2
"Entre os atributos mais surpreendentes da alma humana", diz Lotze, "está, ao lado de tanto egoísmo individual, uma ausência geral de inveja de cada presente com relação a seu futuro". Essa reflexão conduz-nos a pensar que nossa imagem da felicidade é totalmente marcada pela época que nos foi atribuída pelo curso da nossa existência. A felicidade capaz de suscitar nossa inveja está toda, inteira, no ar que já respiramos, nos homens com os quais poderíamos ter conversado, nas mulheres que poderíamos ter possuído. Em outras palavras, a imagem da felicidade está indissoluvelmente ligada à da salvação. O mesmo ocorre com a imagem do passado, que a história transforma em coisa sua. O passado traz consigo um índice misterioso, que o impele à redenção. Pois não somos tocados por um sopro do ar que foi respirado antes? Não existem, nas vozes que escutamos, ecos de vozes que emudeceram? Não têm as mulheres que cortejamos irmãs que elas não chegaram a conhecer? Se assim é, existe um encontro secreto, marcado entre as gerações precedentes e a nossa. Alguém na terra está à nossa espera. Nesse caso, como a cada geração, foi-nos concedida uma frágil força messiânica para a qual o passado dirige um apelo. Esse apelo não pode ser rejeitado impunemente. O materialista histórico sabe disso.

3
O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história. Sem dúvida, somente a humanidade redimida poderá apropriar-se totalmente do seu passado. Isso quer dizer: somente para a humanidade redimida o passado é citável, em cada um dos seus momentos. Cada momento vivido transforma-se numa citation à l’ordre du jour — e esse dia é justamente o do juízo final.

4
"Lutai primeiro pela alimentação e pelo vestuário, e em seguida o reino de Deus virá por si mesmo". Hegel, 1807

A luta de classes, que um historiador educado por Marx jamais perde de vista, é uma luta pelas coisas brutas e materiais, sem as quais não existem as refinadas e espirituais. Mas na luta de classes essas coisas espirituais não podem ser representadas como despojos atribuídos ao vencedor. Elas se manifestam nessa luta sob a forma da confiança, da coragem, do humor, da astúcia, da firmeza, e agem de longe, do fundo dos tempos. Elas questionarão sempre cada vitória dos dominadores. Assim como as flores dirigem sua corola para o sol, o passado, graças a um misterioso heliotropismo, tenta dirigir-se para o sol que se levanta no céu da história. O materialismo histórico deve ficar atento a essa transformação, a mais imperceptível de todas.

5
A verdadeira imagem do passado perpassa, veloz. O passado só se deixa fixar, como imagem que relampeja irreversivelmente, no momento em que é reconhecido. "A verdade nunca nos escapará" — essa frase de Gottfried Keller caracteriza o ponto exacto em que o historicismo se separa do materialismo histórico. Pois irrecuperável é cada imagem do presente que se dirige ao presente, sem que esse presente se sinta visado por ela.

6
Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo "como ele de fato foi". Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo. Cabe ao materialismo histórico fixar uma imagem do passado, como ela se apresenta, no momento do perigo, ao sujeito histórico, sem que ele tenha consciência disso. O perigo ameaça tanto a existência da tradição como os que a recebem. Para ambos, o perigo é o mesmo: entregar-se às classes dominantes, como seu instrumento. Em cada época, é preciso arrancar a tradição ao conformismo, que quer apoderar-se dela. Pois o Messias não vem apenas como salvador; ele vem também como o vencedor do Anticristo. O dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer.

7
"Pensa na escuridão e no grande frio
Que reinam nesse vale, onde soam lamentos."
Brecht, Ópera dos três vinténs

Fustel de Coulanges recomenda ao historiador interessado em ressuscitar uma época que esqueça tudo o que sabe sobre fases posteriores da história. Impossível caracterizar melhor o método com o qual rompeu o materialismo histórico. Esse método é o da empatia. Sua origem é a inércia do coração, a acedia, que desespera de apropriar-se da verdadeira imagem histórica, em seu relampejar fugaz. Para os teólogos medievais, a acedia era o primeiro fundamento da tristeza. Flaubert, que a conhecia, escreveu: "Peu de gens devineront combien il a fallu être triste pour ressusciter Carthage". A natureza dessa tristeza se tomará mais clara se nos perguntarmos com quem o investigador historicista estabelece uma relação de empatia. A resposta é inequívoca: com o vencedor. Ora, os que num momento dado dominam são os herdeiros de todos os que venceram antes. A empatia com o vencedor beneficia sempre, portanto, esses dominadores. Isso diz tudo para o materialista histórico. Todos os que até hoje venceram participam do cortejo triunfal, em que os dominadores de hoje espezinham os corpos dos que estão prostrados no chão. Os despojos são carregados no cortejo, como de praxe. Esses despojos são o que chamamos bens culturais. O materialista histórico os contempla com distanciamento. Pois todos os bens culturais que ele vê têm uma origem sobre a qual ele não pode reflectir sem horror. Devem sua existência não somente ao esforço dos grandes génios que os criaram, como à corvéia anônima dos seus contemporâneos. Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. E, assim como a cultura não é isenta de barbárie, não o é, tampouco, o processo de transmissão da cultura. Por isso, na medida do possível, o materialista histórico se desvia dela. Considera sua tarefa escovar a história a contrapelo.

8
A tradição dos oprimidos nos ensina que o "estado de exceção" em que vivemos é na verdade a regra geral. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a essa verdade. Nesse momento, perceberemos que nossa tarefa é originar um verdadeiro estado de exceção; com isso, nossa posição ficará mais forte na luta contra o fascismo. Este se beneficia da circunstância de que seus adversários o enfrentam em nome do progresso, considerado como uma norma histórica. O assombro com o fato de que os episódios que vivemos no século XX "ainda" sejam possíveis, não é um assombro filosófico. Ele não gera nenhum conhecimento, a não ser o conhecimento de que a concepção de história da qual emana semelhante assombro é insustentável.

9
"Minhas asas estão prontas para o vôo,
Se pudesse, eu retrocederia
Pois eu seria menos feliz
Se permanecesse imerso no tempo vivo."
Gerhard Scholem, Saudação do anjo

Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.

10
Os temas que as regras do claustro impunham à meditação dos monges tinham como função desviá-los do mundo e das suas pompas. Nossas reflexões partem de uma preocupação semelhante. Neste momento, em que os políticos nos quais os adversários do fascismo tinham depositado as suas esperanças jazem por terra e agravam sua derrota com a traição à sua própria causa, temos que arrancar a política das malhas do mundo profano, em que ela havia sido enredado por aqueles traidores. Nosso ponto de partida é a idéia de que a obtusa fé no progresso desses políticos, sua confiança no "apoio das massas" e, finalmente, sua subordinação servil a um aparelho incontrolável são três aspectos da mesma realidade. Estas reflexões tentam mostrar como é alto o preço que nossos hábitos mentais têm que pagar quando nos associamos a uma concepção da história que recusa toda cumplicidade com aquela à qual continuam aderindo esses políticos.

11
O conformismo, que sempre esteve em seu elemento na social-democracia, não condiciona apenas suas táticas políticas, mas também suas idéias econômicas. E uma das causas do seu colapso posterior. Nada foi mais corruptor para a classe operária alemã que a opinião de que ela nadava com a corrente. O desenvolvimento técnico era visto como o declive da corrente, na qual ela supunha estar nadando. Daí só havia um passo para crer que o trabalho industrial, que aparecia sob os traços do progresso técnico, representava uma grande conquista política. A antiga moral protestante do trabalho, secularizada, festejava uma ressurreição na classe trabalhadora alemã. O Programa de Gotha já continha elementos dessa confusão. Nele, o trabalho é definido como "a fonte de toda riqueza e de toda civilização". Pressentindo o pior, Marx replicou que o homem que não possui outra propriedade que a sua força de trabalho está condenado a ser "o escravo de outros homens, que se tornaram... proprietários". Apesar disso, a confusão continuou a propagar-se, e pouco depois Josef Dietzgen anunciava: "O trabalho é o Redentor dos tempos modernos... No aperfeiçoamento... do trabalho reside a riqueza, que agora pode realizar o que não foi realizado por nenhum salvador". Esse conceito de trabalho, típico do marxismo vulgar, não examina a questão de como seus produtos podem beneficiar trabalhadores que deles não dispõem. Seu interesse se dirige apenas aos progressos na dominação da natureza, e não aos retrocessos na organização da sociedade. Já estão visíveis, nessa concepção, os traços tecnocráticos que mais tarde vão aflorar no fascismo. Entre eles, figura uma concepção da natureza que contrasta sinistramente com as utopias socialistas anteriores a março de 1848. O trabalho, como agora compreendido, visa uma exploração da natureza, comparada, com ingênua complacência, à exploração do proletariado. Ao lado dessa concepção positivista, as fantasias de um Fourier, tão ridicularizadas, revelam-se surpreendentemente razoáveis. Segundo Fourier, o trabalho social bem organizado teria entre seus efeitos que quatro luas iluminariam a noite, que o gelo se retiraria dos pólos, que a água marinha deixaria de ser salgada e que os animais predatórios entrariam a serviço do homem. Essas fantasias ilustram um tipo de trabalho que, longe de explorar a natureza, libera as criações que dormem, como virtualidades, em seu ventre. Ao conceito corrompido de trabalho corresponde o conceito complementar de uma natureza, que segundo Dietzgen, "está ali, grátis".

12
"Precisamos da história, mas não como precisam dela
os ociosos que passeiam no jardim da ciência."
Nietzsche, Vantagens e desvantagens da história para a vida

O sujeito do conhecimento histórico é a própria classe combatente e oprimida. Em Marx, ela aparece como a última classe escravizada, como a classe vingadora que consuma a tarefa de libertação em nome das gerações de derrotados. Essa consciência, reativada durante algum tempo no movimento espartaquista, foi sempre inaceitável para a social-democracia. Em três decênios, ela quase conseguiu extinguir o nome de Blanqui, cujo eco abalara o século passado. Preferiu atribuir à classe operária o papel de salvar gerações futuras. Com isso, ela a privou das suas melhores forças. A classe operária desaprendeu nessa escola tanto o ódio como o espírito de sacrifício. Porque um e outro se alimentam da imagem dos antepassados escravizados, e não dos descendentes liberados.

13
"Nossa causa está cada dia mais clara e o povo cada dia mais esclarecido."
Josef Dietzgen, Filosofia social-democrata

A teoria e, mais ainda, a prática da social-democracia foram determinadas por um conceito dogmático de progresso sem qualquer vínculo com a realidade. Segundo os social-democratas, o progresso era, em primeiro lugar, um progresso da humanidade em si, e não das suas capacidades e conhecimentos. Em segundo lugar, era um processo sem limites, idéia correspondente à da perfectibilidade infinita do gênero humano. Em terceiro lugar, era um processo essencialmente automático, percorrendo, irresistível, uma trajetória em flecha ou em espiral. Cada um desses atributos é controvertido e poderia ser criticado. Mas, para ser rigorosa, a crítica precisa ir além deles e concentrar-se no que lhes é comum. A idéia de um progresso da humanidade na história é inseparável da idéia de sua marcha no interior de um tempo vazio e homogêneo. A crítica da idéia do progresso tem como pressuposto a crítica da idéia dessa marcha.

14
"A Origem é o Alvo."
Karl Kraus, Palavras em verso

A história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de "agoras". Assim, a Roma antiga era para Robespierre um passado carregado de "agoras", que ele fez explodir do continuum da história. A Revolução Francesa se via como uma Roma ressurreta. Ela citava a Roma antiga como a moda cita um vestuário antigo. A moda tem um faro para o actual, onde quer que ele esteja na folhagem do antigamente. Ela é um salto de tigre em direção ao passado. Somente, ele se dá numa arena comandada pela classe dominante. O mesmo salto, sob o livre céu da história, é o salto dialético da Revolução, como o concebeu Marx.

15
A consciência de fazer explodir o continuum da história é própria às classes revolucionárias no momento da ação. A Grande Revolução introduziu um novo calendário. O dia com o qual começa um novo calendário funciona como um acelerador histórico. No fundo, é o mesmo dia que retorna sempre sob a forma dos dias feriados, que são os dias da reminiscência. Assim, os calendários não marcam o tempo do mesmo modo que os relógios. Eles são monumentos de uma consciência histórica da qual não parece mais haver na Europa, há cem anos, o mínimo vestígio. A Revolução de julho registrou ainda um incidente em que essa consciência se manifestou. Terminado o primeiro dia de combate, verificou-se que em vários bairros de Paris, independentes uns dos outros e na mesma hora, foram disparados tiros contra os relógios localizados nas torres. Uma testemunha ocular, que talvez deva à rima a sua intuição profética, escreveu:
"Qui le croirait! on dit qu’irrités contre l’heure
De nouveaux Josués, au pied de chaque tour,
Tiraient sur les cadrans pour arrêter le jour."

16
O materialista histórico não pode renunciar ao conceito de um presente que não é transição, mas pára no tempo e se imobiliza. Porque esse conceito define exatamente aquele presente em que ele mesmo escreve a história. O historicista apresenta a imagem "eterna" do passado, o materialista histórico faz desse passado uma experiência única. Ele deixa a outros a tarefa de se esgotar no bordel do historicismo, com a meretriz "era uma vez". Ele fica senhor das suas forças, suficientemente viril para fazer saltar pelos ares o continuum da história.

17
O historicismo culmina legitimamente na história universal. Em seu método, a historiografia materialista se distancia dela talvez mais radicalmente que de qualquer outra. A história universal não tem qualquer armação teórica. Seu procedimento é aditivo. Ela utiliza a massa dos fatos, para com eles preencher o tempo homogêneo e vazio. Ao contrário, a historiografia marxista tem em sua base um princípio construtivo. Pensar não inclui apenas o movimento das idéias, mas também sua imobilização. Quando o pensamento pára, bruscamente, numa configuração saturada de tensões, ele lhes comunica um choque, através do qual essa configuração se cristaliza enquanto mônada. O materialista histórico só se aproxima de um objeto histórico quando o confronta enquanto mônada. Nessa estrutura, ele reconhece o sinal de uma imobilização messiânica dos acontecimentos, ou, dito de outro modo, de uma oportunidade revolucionária de lutar por um passado oprimido. Ele aproveita essa oportunidade para extrair uma época determinada do curso homogêneo da história; do mesmo modo, ele extrai da época uma vida determinada e, da obra composta durante essa vida, uma obra determinada. Seu método resulta em que na obra o conjunto da obra, no conjunto da obra a época e na época a totalidade do processo histórico são preservados e transcendidos. O fruto nutritivo do que é compreendido historicamente contém em seu interior o tempo, como sementes preciosas, mas insípidas.

18
"Comparados com a história da vida orgânica na Terra", diz um biólogo contemporâneo, "os míseros 50 000 anos do Homo sapiens representam algo como dois segundos ao fim de um dia de 24 horas, Por essa escala, toda a história da humanidade civilizada preencheria um quinto do último segundo da última hora." O "agora", que como modelo do messiânico abrevia num resumo incomensurável a história de toda a humanidade, coincide rigorosamente com o lugar ocupado no universo pela história humana.

Apêndice

1
O historicismo se contenta em estabelecer um nexo causal entre vários momentos da história. Mas nenhum fato, meramente por ser causa, é só por isso um fato histórico. Ele se transforma em fato histórico postumamente, graças a acontecimentos que podem estar dele separados por milênios. O historiador consciente disso renuncia a desfiar entre os dedos os acontecimentos, como as contas de um rosário. Ele capta a configuração, em que sua própria época entrou em contato com uma época anterior, perfeitamente determinada. Com isso, ele funda um conceito do presente como um "agora" no qual se infiltraram estilhaços do messiânico.

2
Certamente, os adivinhos que interrogavam o tempo para saber o que ele ocultava em seu seio não o experimentavam nem como vazio nem como homogêneo. Quem tem em mente esse fato, poderá talvez ter uma idéia de como o tempo passado é vivido na rememoração: nem como vazio, nem como homogêneo. Sabe-se que era proibido aos judeus investigar o futuro. Ao contrário, a Torá e a prece se ensinam na rememoração. Para os discípulos, a rememoração desencantava o futuro, ao qual sucumbiam os que interrogavam os adivinhos. Mas nem por isso o futuro se converteu para os judeus num tempo homogêneo e vazio. Pois nele cada segundo era a porta estreita pela qual podia penetrar o Messias.

Walter Benjamin - 1940


quinta-feira

Cartum da Semana:

Cartum de autoria de Gilmar



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