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quinta-feira

O "Farwest" de Blair e Bush 



Erick da Silva

A idéia do ataque preventivo, do atirar primeiro e perguntar depois, que tantas vidas já tirou no Iraque, fez mais uma vítima inocente, e desta vez foi um brasileiro.
Alguns dias após Londres sofrer mais um lamentável atentado terrorista, Jean Charles de Menezes foi covardemente assassinado. Dois policiais ingleses disparam oito tiros contra Jean, sendo que sete deles na cabeça, o que mostra a intenção de "deter" o jovem, que havia sido confundido com um dos terroristas responsáveis pelos ataques nos metrôs e ônibus londrinos.
Jean estava completamente desarmado, sua situação era legal, trabalhava como eletricista e seu único "delito" foi ter levantado alguma suspeita de ordem meramente subjetiva na opinião de um dos "agentes da lei". Perdeu a vida, conforme foi noticiado na grande imprensa, devido a estar usando uma jaqueta que levantou suspeitas.
E o governo britânico a única coisa que fez foi lamentar o "deslize" e declarou que continuará "atirando para matar" e reduzindo as liberdades individuais, e que agora vão se voltar de forma ainda mais odiosa e preconceituosa contra os trabalhadores imigrantes que vivem em seu país.
Tony Blair, George W. Bush e companhia, não dão mostras de nenhuma disposição de mudança em sua "Guerra Infinita". Que tantas vítimas tem feito, muito mais do que qualquer atentado terrorista injustificado.
O que começou como uma reação supostamente justificada do 11 de setembro, toma contornos cada vez piores, onde os “inimigos” a cada momento se modificam, gerando uma guerra sem fim cada vez mais extensa e permanente.
Ao se colocarem na condição de “xerifes” do planeta, todo o resto do mundo fica pressionado neste “farwest”, onde os interesses corporativos privados submetem a imensa maioria, onde as injustiças sociais apenas se aprofundam e a paz fica cada vez mais ameaçada.
Todas e todos aqueles que acreditam em uma outra lógica de política, que defenda a democracia, a solidariedade e defendem e valorizam a própria vida humana, deve se opor fortemente a esta Guerra sem fim de Bush e Blair.




quarta-feira

Humor 


segunda-feira

Em Memória da Comuna 

V. I. Lenin
Passaram-se 40 anos desde que se proclamou a Comuna de Paris. Seguindo o costume, o proletariado francês honrou com comícios e manifestações a memória dos homens da revolução de 18 de março de 1871. No final de maio voltará a levar coroas de flores às tumbas dos communards fuzilados durante a terrível ?semana de maio?e a jurar diante daquelas tumbas que lutará com firmeza até lograr o triunfo completo de suas idéias, até dar por cumprida a obra por eles legada.

Por que, pois, não só o proletariado francês, senão o de todo o mundo rende homenagem aos homens da Comuna como a seus precursores? Qual é a herança da Comuna?
A Comuna surgiu de maneira espontânea, ninguém a preparou de modo consciente e sistemático. A funesta guerra com a Alemanha, os sofrimentos do assédio, o desemprego operário e a ruína da pequena burguesia; a indignação das massas contra as classes superiores e as autoridades que haviam demonstrado uma incapacidade absoluta; a surda efervescência no seio da classe operária, descontente de sua situação e ansiosa por um novo regime social; a composição reacionária da Assembléia Nacional, que fazia temer os destinos da república foram as causas que concorreram com outras muitas para impulsionar a população parisiense para a revolução do 18 de março, que pôs de improviso o poder nas mãos da Guarda Nacional, em mãos da classe operária e da pequena burguesia, que havia aderido aos operários.
Foi um acontecimento histórico sem precedentes. Até então, o poder estivera, em geral, nas mãos dos latifundiários e dos capitalistas, quer dizer, de seus mandatários, que constituíam o chamado governo. Depois da revolução de 18 de março, quando o governo do senhor Thiers fugiu de Paris com suas tropas, sua polícia e seus funcionários, o povo ficou dono da situação e o poder passou para as mãos do proletariado. Porém, na sociedade moderna, o proletariado, avassalado no econômico pelo capital, não pode dominar na política se não rompe as cadeias que o atam ao capital. Daí que o movimento da Comuna deveria adquirir inevitavelmente um matiz socialista, quer dizer, deveria tender ao aniquilamento do domínio da burguesia, da dominação do capital, à destruição das próprias bases do regime social contemporâneo.
Em seu início tratou-se de um movimento heterogêneo e confuso ao extremo.
A ele somaram-se também os patriotas com a esperança de que a Comuna renovasse a guerra contra os alemães e levasse a um desenlace venturoso. Apoiaram-no também os pequenos lojistas, em perigo de arruinamento se não se adiasse o pagamento das letras vencidas e dos aluguéis (adiamento que lhes era negado pelo governo, mas que a Comuna lhes concedeu). Por último, no começo, também simpatizaram em certo grau com ele os republicanos burgueses, temerosos de que a reacionária Assembléia Nacional (a vilanagem, os violentos latifundiários) restabelecesse a monarquia. Porém, o papel fundamental nesse movimento foi desempenhado, naturalmente, pelos operários (sobretudo os artesãos parisienses), entre os quais se havia espalhado, nos últimos anos do Segundo Império da França, uma intensa propaganda socialista, estando muitos deles inclusive filiados à I Internacional (Associação Internacional dos Trabalhadores).
Unicamente os operários guardaram fidelidade à Comuna até o fim. Os republicanos burgueses e a pequena burguesia não tardaram em afastar-se dela: uns assustaram- se com o caráter revolucionário socialista do movimento, com seu caráter proletário; outros se afastaram dela quando viram que estava condenada a uma derrota inevitável. Unicamente os proletários franceses apoiaram a seu governo sem temor nem desmaio, só eles lutaram e morreram por ele, quer dizer, pela emancipação da classe operária, por um futuro melhor para todos os trabalhadores.
Abandonada por seus aliados de ontem e sem contar com nenhum apoio, a Comuna tinha de ser derrotada inevitavelmente. Toda a burguesia francesa, todos os latifundiários, especuladores da bolsa e fabricantes, todos os grandes e pequenos ladrões, todos os exploradores uniram-se contra ela. Com a ajuda de Bismarck (que pôs em liberdade 100 mil soldados franceses, prisioneiros dos alemães, para esmagar a Paris revolucionária), essa coalizão burguesa logrou confrontar com o proletariado parisiense os camponeses atrasados e a pequena burguesia de províncias e cercar meia Paris com um anel de ferro (a outra metade havia sido cercada pelo exército alemão). Em algumas cidades importantes da França (Marselha, Lyon, Saint- Etienne, Dijon e outras), os operários também tentaram tomar o poder, proclamar a Comuna e acudir a Paris, porém tais intentos logo fracassaram. E Paris, que havia sido o primeiro local a desfraldar a bandeira da insurreição proletária, ficou abandonada a suas próprias forças e condenada a uma morte certa.

Para que uma revolução social triunfe são necessárias, pelo menos, duas condições: um alto desenvolvimento das forças produtivas e um proletariado preparado para ela. Contudo, em 1871, não se deu nenhuma dessas condições. O capitalismo francês encontrava-se ainda pouco desenvolvido, a França era, então, fundamentalmente um país de pequena burguesia (artesãos, camponeses, lojistas, etc.). Por outra parte, não existia um partido operário, a classe operária não tinha preparação nem havia passado por um largo treinamento e, em sua massa, sequer havia noção totalmente clara de quais eram seus objetivos nem como se poderia alcançá-los. Não havia uma organização política séria do proletariado nem grandes sindicatos e cooperativas...
Entretanto, o que faltou principalmente à Comuna foi tempo, desafogo para perceber bem como iam as coisas e empreender a realização de seu programa.Apenas ela pôs mão à obra, o governo, entrincheirado em Versalhes e apoiado por toda a burguesia, desencadeou as hostilidades contra Paris. A Comuna teve de pensar, antes de tudo, em sua própria defesa. E até o final mesmo, que ocorreu na semana de 21 a 28 de maio, não houve tempo para pensar seriamente em outra coisa.
Por certo, em que pese a essas condições tão desfavoráveis e à brevidade de sua existência, a Comuna teve tempo de aplicar algumas medidas que caracterizam bastante seus verdadeiros sentido e objetivo. Substituiu o exército permanente, instrumento cego em mãos das classes dominantes, pelo armamento de todo o povo; proclamou a separação da Igreja do Estado; suprimiu a subvenção ao culto (quer dizer, o soldo que o Estado pagava aos padres) e deu um caráter estritamente laico à instrução pública, com o que assestou um rude golpe aos soldados de batina. Pouco foi o tempo para se fazer algo no terreno puramente social, porém esse pouco mostra com suficiente clareza seu caráter de governo popular, de governo operário: foi suprimido o trabalho noturno nas tarefas; foi abolido o sistema das multas, consagrado pela lei, com que se vitimavam os operários; finalmente, foi promulgado o famoso decreto de entrega de todas as fábricas e oficinas abandonadas ou paralisadas por seus donos às cooperativas operárias com o fim de retomar a produção. E para sublinhar, como se disséssemos, seu caráter de governo autenticamente democrático, proletário, a Comuna dispôs que a remuneração de todos os funcionários administrativos e do governo não fosse superior ao salário normal de um operário, nem passasse em nenhum caso dos 6.000 francos anuais (menos de 200 rublos ao mês).
Todas essas medidas mostravam com farta eloqüência que a Comuna constituía uma ameaça de morte ao velho mundo, baseado no avassalamento e na exploração. Essa era a causa de a sociedade burguesa não poder dormir tranqüila enquanto o Ajuntamento de Paris ostentasse a bandeira vermelha do proletariado. E quando a força organizada do governo pôde, afinal, dominar a força mal organizada da revolução, os generais bonapartistas, esses generais batidos pelos alemães e garbosos frente a seus compatriotas vencidos, os Rennen-kampf e Méller-Zakomelski franceses fizeram uma matança como jamais se havia visto em Paris. Cerca de 30 mil parisienses foram mortos pela soldadesca enfurecida; uns 45 mil foram detidos, executados logo muitos e desterrados ou enviados a trabalhos forçados milhares deles. No total, Paris perdeu 100 mil filhos, entre os quais se encontravam os melhores operários de todos os ofícios. A burguesia estava satisfeita?
Agora, acabou-se com o socialismo, por muito tempo!?, dizia seu sanguinário chefe, o diminuto Thiers, quando ele e seus generais afogaram em sangue a sublevação do proletariado de Paris. Mas de nada serviram os grunhidos desses corvos burgueses. Não passariam ainda seis anos da derrocada da Comuna, ainda se achavam muitos de seus lutadores em presídio ou no exílio, quando na França iniciou-se um novo movimento operário. A nova geração socialista, enriquecida com a experiência de seus predecessores e em absoluto desencorajada pela derrota que sofreram, recolheu a bandeira caída das mãos dos combatentes da Comuna e levou-a adiante com firmeza e valentia ao grito de ?Viva a revolução social! Viva a Comuna!?. E três ou quatro anos mais tarde, um novo partido operário e a agitação levantada por este no país obrigaram as classes dominantes a pôr em liberdade os communards que o governo ainda mantinha presos.
Honram a memória dos combatentes da Comuna não só os operários franceses, senão também o proletariado de todo o mundo, pois ela não lutou apenas por um objetivo local ou nacional estreito, mas pela emancipa ção de toda a humanidade trabalhadora, de todos os humilhados e ofendidos. Como combatente de vanguarda da revolução social, a Comuna granjeou a simpatia onde quer que sofra e lute o proletariado. O quadro de sua vida e de sua morte, o exemplo de um governo operário que conquistou e reteve em suas mãos durante mais de dois meses a capital do mundo e o espetáculo da heróica luta do proletariado e seus padecimentos depois da derrota têm levantado a moral de milhões de operários, têm alentado suas esperanças e têm ganho suas simpatias para o socialismo. O troar dos canhões de Paris despertou de seu profundo sono às camadas mais atrasadas do proletariado e deu em todas as partes um impulso à propaganda socialista revolucionária. Por isso não morreu a causa da Comuna, por isso segue vivendo até hoje em dia em cada um de nós.

A causa da Comuna é a causa da revolução social, é a causa da completa emancipação política e econômica dos trabalhadores, é a causa do proletariado mundial. E neste sentido é imortal.

V. I. Lenin publicou este artigo originalmente naRevista Rabochaya Gazeta, No. 4–5, April 15 (28), 1911.

quinta-feira

O sol é uma estrela 


Erick da Silva


A astronomia nos ensina que o universo é composto por diversos corpos celestes. Alguns deles são as estrelas, astros luminosos que mantêm praticamente as mesmas posições relativas a esfera celeste. Os quais se distinguem pela sua magnitude. O Sol, astro que ilumina a Terra, é uma estrela.


Se na astronomia este é um ponto pacífico, na política pode não parecer. A analogia se faz pertinente, ao termo em vista a compreensão da simbologia colocada no imaginário brasileiro. A estrela vermelha representa o Partido dos Trabalhadores, fruto do assenso dos movimentos populares no final da década de 70 e do processo de ampla mobilização de massas que emergiu no processo de redemocratização no país. Pela sua origem em condições singulares, pela sua formação política que introduziu um ineditismo ao negar a política conciliatória da social-democracia e o estalinismo dos PCs. E se colocar como defensor de um socialismo democrático, fomentado por uma grande diversidade de posições políticas de esquerda, institucionalizada pelo direito a livre organização em tendências. O PT representa a principal construção da esquerda brasileira no século XX.

Fazendo-se este resgate, nos parece que fica ainda mais claro o limite de alcance do recém-criado PSOL. Surgido em uma conjuntura de descenso dos movimentos sociais, o que inicialmente poderia ser visto como um ato de "defesa" frente as expulsões de parlamentares que votaram contra o governo, o que também é questionável, hoje se mostra ainda mais visível seus limites e a impossibilidades de ocupar o espaço que estaria sendo deixado pela virtual "falência" do PT.

Contando com alguns parlamentares e seus respectivos apoiadores, e alguns intelectuais e pequenos grupos regionais que saíram do PT, o PSOL carece de um maior apoio social. Diferentemente do PT que foi fruto das mobilizações sociais, o PSOL nasce a partir da articulação via parlamento. Já lhe impondo um limitador fortíssimo. E politicamente já comete alguns erros históricos, que podem ser fatais. Como por exemplo, nas eleições municipais do ano passado, quando no 2° turno em Porto Alegre havia uma disputa clara entre direita e esquerda, representadas nas candidaturas de Raul Pont e Fogaça, o PSOL optou por uma postura de isenção, quando poderia optar, de maneira mais correta, por alguma forma de apoio crítico.

Ou ainda, a total ausência de uma apresentação de políticas alternativas as implantadas pelo Governo Lula, ao qual faz oposição. Ficando apenas em uma crítica de forma, faltando conteúdo. Mas o que nos parece o maior dos erros, é a sua opção por centrar a suas ações apenas para um projeto eleitoral no ano que vêm. Antes mesmo de ter um programa e um projeto de país, já tem candidatura e já estuda as eventuais alianças.

O equívoco de estabelecer a construção partidária apenas para um eleitoralismo reduzido, é um erro que o PT levou muitos anos para cometer. Ainda que de forma desigual, pois no Rio Grande do Sul, por exemplo, o PT se estruturou sob outros valores e práticas. O PSOL, que nasceu para ser diferente, já nasce cometendo os mesmos erros. Por isso que, para o bem e para o mal, o sol é uma estrela.

Erick da Silva é estudante de História


quarta-feira

Humor 


segunda-feira

Recomeçar o PT 

Luiz Pilla Vares

O Partido dos Trabalhadores surgiu no cenário político brasileiro há 25 anos como uma novidade autenticamente revolucionária: foi o primeiro partido político em nosso país organizado pela classe trabalhadora, na contramão das velhas siglas manuseadas pelas elites tradicionais. O PT original se propunha a dar fundamento ao conceito republicano: era a primeira versão brasileira daquilo que os velhos jacobinos da Revolução Francesa legaram à política, uma postura ética irrenunciável, no interior de um esboço de política socialista, nem bolchevique, nem social democrata.
Além disso, nascia estreitamente ligado aos movimentos sociais, ao sindicalismo novo representado pela CUT, aos agricultores sem terra do MST, aos setores progressistas das Igrejas, especialmente a Católica, aos antigos militantes que lutaram contra a ditadura nas mais diversas organizações de esquerda que proliferam nos anos 60. Enfim, um partido laico que despertou esperanças no Brasil inteiro e semeou perspectivas através do mundo: diante do aparente triunfo (que se revelou inteiramente enganoso) do neoliberalismo, surgia uma nova esquerda, democrática, socialista, de massas, republicana e visceralmente ética.
Mas o PT chegou ao poder. Assumiu as instituições, o que não tem nada da mal, e chegou a realizar algumas rupturas no velho sistema, como a criação do Orçamento Participativo, principalmente em Porto Alegre, e no governo do Rio Grande do Sul. Mas, no conjunto do país, foi se afastando paulatinamente dos movimento sociais que lhe deram origem e, aos poucos, acabou se emaranhando na rotina do poder e da máquina burocrática nas mais diversas instâncias do Estado. E sucumbiu àquilo que Christian Rakosvky denominou “os perigos profissionais do poder” até chegarmos à constrangedora situação atual que faz sangrar dolorosamente o coração vermelho de todos os petistas.
O que fazer? O velho PT não está morto. Mas está sim gravemente enfermo. E os paliativos para a sua recuperação não resolvem o estágio preocupante da doença. A sacudida na direção nacional era uma exigência. Tarso Genro, por exemplo, agora presidente nacional petista, é um patrimônio ético do PT (quero deixar claro que tenho grande respeito por seu antecessor José Genoíno), mas não resolverá o problema.
A nova direção petista precisa, isso sim, retomar o velho programa e, em primeiro lugar, questionar radicalmente as alianças promíscuas que contaminam o governo, o nosso governo e propor, em vez das alianças pragmáticas, alianças programáticas que rompam com a atual política econômica ortodoxa e se voltem para o imenso espaço social, justificando o oceano de esperanças que significou a eleição de Lula em 2002.
Em suma, o PT só tem uma saída: recomeçar, ir ao fundo de sua história, tomá-la em suas mãos e resgatar a mística que trouxe tantas vitórias e tantas alegrias a uma militância brava e que agora está perplexa e abatida.
Luiz Pilla Vares é jornalista, ex-presidente do PT de Porto Alegre

sexta-feira

Humor 


terça-feira

Juros x déficit: um falso dilema 

Paul Singer

Os objetivos de curto prazo das políticas macro-econômicas são, em geral, combinar o máximo de ocupação com o mínimo de inflação. As políticas macro-econômicas são fundamentalmente duas: a fiscal, que manipula a despesa e a receita pública, e a monetária, que determina a taxa “oficial” de juros, tendo em vista influir sobre o custo e o volume do crédito. Tanto a inflação como a ocupação dependem da relação entre demanda total e oferta total de mercadorias (bens e serviços). Se a demanda for elevada em relação à oferta, tanto a inflação como a ocupação tendem a subir; se, pelo contrário, a demanda for baixa em relação à oferta, tanto inflação quanto ocupação tendem a cair.
As políticas macro-econômicas de curto prazo influem diretamente na demanda agregada ou total. Se a política fiscal expandir o gasto público acima da receita, o déficit resultante expande a demanda; e vice-versa, se o gasto público for cortado até ficar menor que a receita, o superávit assim produzido reduz a demanda. O mesmo se aplica à política monetária: se ela baratear o crédito, ela expandirá o consumo e o investimento e, portanto, a demanda. Se ela encarecer o crédito, o efeito será o oposto e a demanda será diminuída.
O saldo das contas públicas e a taxa oficial de juros são instrumentos que o poder público usa para tentar determinar uma taxa de crescimento do PIB que atinja as duas metas: uma taxa de ocupação socialmente aceitável e uma taxa de inflação suficientemente baixa para que a indexação dos preços não se torne uma reivindicação irresistível dos assalariados. O governo brasileiro faz isso ao impor à sua política fiscal uma meta bastante alta de superávit primário e ao dirigir sua política monetária para metas anuais de inflação decrescentes.
A proposta de Delfim Neto é de reforçar a tendência recessiva da política fiscal para permitir uma queda posterior da taxa de juros. O viés da proposta é recessivo. Ela pretende engessar o gasto corrente do governo federal com educação e saúde, desvinculando mais 20% do mesmo, para conquistar a confiança dos “investidores” (dos ricos) na capacidade do governo de servir sua dívida. A promessa de Delfim é que isso permitirá em seguida a diminuição dos juros, o que poderá vir a suscitar nova retomada da atividade e aumento do nível de ocupação. Acontece que, se a proposta fosse implementada deste modo, a recessão seria certa e a recuperação uma probabilidade, na melhor das hipóteses.
Mas, o dilema entre mais arrocho fiscal para alcançar um possível alívio creditício é falso. Os juros podem ser reduzidos a partir de agora, sem que os “investidores” percam a confiança no governo, porque eles foram aumentados exagerada e desnecessariamente em primeiro lugar. O próprio Delfim Neto, em suas colunas na imprensa, desancou repetidamente a política monetária recessiva praticada nos últimos 10 meses. A contenção do gasto social do governo é totalmente dispensável para desfazer o que não passou dum erro lamentável da política monetária, criticada pela maioria dos economistas.
A proposta do “déficit zero” é dirigida ao mercado financeiro, para tentar impedir que a crise política, que hoje atinge o governo e o PT, venha a inquietá-lo. Ela oferece o sacrifício das camadas pobres da população, que dependem do ensino público, da assistência pública à saúde e dos programas públicos de transferência de renda, aos detentores do excedente financeiro para que mantenham os investimentos no país e especificamente nos papéis da dívida pública, apesar da intensa campanha de denúncias da mídia contra o governo e o Partido dos Trabalhadores.
Isso ficou claro quando a proposta, inicialmente apresentada ao Presidente e seus ministros, foi submetida a uma seleta audiência de grandes empresários, sem qualquer preocupação de consultar os outros setores da população. A proposta é de jogar nas costas dos setores carentes – de forma permanente, por meio duma emenda à Constituição – os efeitos sociais e econômicos da crise política, para conservar o apoio dos setores privilegiados ao governo e à sua política. Ela merece o repúdio que vem recebendo de todos que priorizam o combate à desocupação e à miséria, o qual exige a expansão do gasto social do governo e a urgente redução do gasto do governo com o serviço da dívida pública, através da redução das taxas de juros.
Paul Singer é economista, Secretário Nacional de Economia Solidária

segunda-feira

Humor 


sexta-feira

Um país para poucos 


Erick da Silva*

O Brasil é um país de imensas potencialidades. No território brasileiro temos a maior quantidade e diversidade de minérios que se tem conhecimento, temos reservas de petróleo que podem nos dar auto-sustentabilidade energética, a maior proporção do mundo de água doce e a maior biodiversidade. Ainda assim, é um país pobre, onde a maioria da população é carente de condições dignas de vida.
Este quadro contraditório não ocorre devido à nenhum mistério. Tem razões e motivos claros. Que se verifica desde a sua formação. O Brasil foi colônia portuguesa de 1500 à 1822. Foram mais de três séculos de roubo das riquezas naturais, extorsão por meio de tributos, escravidão e genocídio. Depois do domínio de Portugal, o Brasil continuou submetido a Inglaterra, depois aos EUA e, atualmente, às empresas e bancos transnacionais.
Levando a observar um quadro de formação nacional que tem como marca principal a injustiça e as desigualdades sociais. Explicando, em parte, a manutenção da imensa maioria empobrecida, devido diretamente a concentração de riquezas na mão de poucos. Pesquisa do IPEA, demonstra que em 2002, o 1% mais rico da população possui a mesma fatia da renda nacional ganha pelos 50% mais pobres.
Os motivos que geram esta concentração são diversos. Mas destacaríamos a falta de democracia econômica, a política fiscal dos governos, que prioriza o gasto com pagamentos dos juros das dívidas interna e externa aos banqueiros e com isto corta gastos com infra-estrutura e serviços públicos. Outro fator é a política tributária, que beneficia os que tem muito e taxa principalmente os consumidores. Além da falta de mecanismos de controle sobre a entrada e saída de capital do país.
O Brasil possui a quarta maior concentração de renda do mundo. Que desemboca em um cenário de alargamento do fosso que separam a minoria abastada da grande maioria do povo. Este quadro não é irreversível, pode e deve ser superado ou suprimido. E só é possível quando a população se mobilizar para pressionar por mudanças que democratizem a renda e riqueza. Onde o Brasil que é rico de recursos passe também a ser rico em igualdade e justiça social. Deixando de ser um país para poucos.

Erick da Silva é estudante do curso de história




quinta-feira

Humor 


quarta-feira

Até quando agüentaremos, sem levantar o traseiro? 

João Pedro Stedile
Caros amigos e amigas, estou chegando de nossa marcha nacional pela reforma agrária. Fizemos um balanço positivo de seus resultados, pois ela conseguiu atingir os objetivos que havia se proposto. Queríamos recolocar o tema da reforma agrária na opinião pública. Queríamos chamar atenção para o problema da política econômica, e queríamos debater com a sociedade a necessidade de pensarmos um novo projeto para o Brasil. E, de quebra, convencer o governo a honrar seus compromissos de campanha e também do plano nacional de reforma agrária, naquilo que era específico do atendimento aos sem-terra. Em certa medida, conseguimos colocar essas questões em debate.
Mas quero aproveitar o espaço de nossa revista para compartilhar com vocês impressões pessoais a respeito da política econômica. Impressões resultantes das relações que temos com os demais movimentos sociais, com as igrejas, os partidos, as entidades, com parlamentares e setores do governo.Vejam.Todos concordam neste país que a atual política econômica está baseada: na aplicação de altas taxas de juro; na garantia de superávit primário, ou seja, o governo se compromete a não gastar um terço de tudo o que recolhe nos impostos, para poder ter sobra (superávit), e aí repassa aos bancos na forma de pagamento da dívida e dos juros. E no estímulo as exportações.
Todos concordam que essas linhas de política econômica são uma determinação clássica do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, para fazer com que as economias do Terceiro Mundo funcionem na lógica da acumulação e das necessidades do capital internacional.
Todos sabem que essa lógica é tão perversa para as economias nacionais, que o próprio governo dos Estados Unidos não a aplica para sua economia. É lá que se pratica uma das mais baixas taxas de juros do mundo (apenas 2 por cento ao ano, para estimular o consumo dos seus cidadãos) . O governo dos Estados Unidos tem o maior déficit orçamentário do planeta, ao redor de 500 bilhões de dólares anuais. E, ainda, é o país de maior déficit da balança comercial, ou seja, importa 400 bilhões de dólares a mais do que exporta. E a sua economia funciona muito bem, obrigado.Já os nossos economistas burocratas muito bem pagos pela metrópole vivem repetindo besteiras para que aqui se aplique o que os do norte querem, independentemente da melhoria das condições de vida de nosso povo.
São mais realistas que o rei.Todos os economistas, das mais diferentes correntes de pensamento, desde Delfim Netto até os do P-SOL, dizem que essa política econômica não faz a economia crescer, aumenta a concentração de renda e de riqueza e, portanto, aumenta a desigualdade social. E que, mesmo quando há crescimento econômico, não cresce o emprego formal, dentro das necessidades nos contingentes que chegam ao mercado, pois os setores que crescem são os exportadores e os mais modernos em tecnologia, ou o setor financeiro. Todos desempregadores de mão-de-obra.
A quem interessa então essa política econômica? Defendem essa política os banqueiros, as transnacionais, os setores exportadores, os tucanos e toda a imprensa conservadora. Colonizada e adesista das grandes empresas que lhes pagam fortunas em publicidade para apoiarem o governo na política econômica, e criticarem ferozmente o governo na política social e na política externa.
A novidade que vimos na marcha é que até mesmo dentro do governo, pelas conversas que tivemos com os quinze ministros, a maioria é contra a atual política econômica. Parece que o presidente é refém, saiba lá Deus por que razões, da política do Ministério da Fazenda, capitaneada pelo seu porta-voz, o médico sanitarista doutor Palloci, mas operada pela mesma equipe montada pelo governo FHC. Ora, se era para ter a mesma política econômica e a mesma equipe, eles poderiam ter avisado na campanha. Porque assim mais gente teria votado no Serra.
Esses dias mudaram o secretário do Tesouro, e trouxeram mais um tucano, o senhor Murilo Portugal, que era a ponte entre o FHC e o FMI, e vice-versa. Pois agora ele tem a chave do cofre. Dizem os fofoqueiros de Brasília que a equipe econômica está apenas se precavendo, caso o STF aprove o processo contra o doutor Meireles, por corrupção eleitoral, e ele tiver de se afastar, sobe o doutor Portugal, ou seja, entregamos logo pro FMI e seus prepostos o controle do Banco Central.
Acorda, presidente Lula! Se todo mundo critica essa política econômica, e apenas os banqueiros, os tucanos e a turma do Palloci apóia, alguma coisa está errada. Você precisa ouvir mais o povo, e menos os puxa-sacos.
Embora, cá entre nós, tenhamos dúvida se, a essa altura do campeonato, basta a vontade do Presidente, tal as alianças e os compromissos feitos. O que as boas lições da história nos ensinam é que apenas as mobilizações sociais podem conquistar mudanças em sociedades tão desiguais. Daí que o maior desafio que temos nessa conjuntura para alterar a política econômica é a situação de descenso do movimento de massas, que deixa a ratazana com a faca e o queijo na mão. Então, os movimentos sociais e as forças sociais organizadas de nosso povo devem, isso sim, se articular e estimular todo tipo de lutas sociais, para que o povo se mobilize para mudar a política econômica do país, antes que seja tarde.
E, enquanto não mudar, vamos assistindo a cada dia a renda se concentrar. No ultimo dia da marcha, por exemplo, tivemos que fazer várias reuniões para convencer o governo a descontingenciar os únicos 15 milhões de reais aplicados pelo governo em educação para adultos no meio rural, o tal do Pronera. Um programa do próprio governo. No mesmo dia, soubemos que o Tesouro vai repassar ao Banco do Brasil, somente neste ano, nada menos do que 3,38 bilhões de reais, por juros não pagos ao banco, pelos fazendeiros, em contas antigas. Mas isso não sai na imprensa. Não é comentado pelo ministro da Fazenda como um arrombo nos cofres públicos. No outro dia, o Banco Central aumentou a taxa de juros de 19,5 para 19,75 por cento ao ano. E o Tesouro terá que tirar de todos brasileiros, mais 900 milhões de reais, por esses 0,25 por cento a mais, a serem transferidos aos bancos até o final do ano.Como vêem, o presidente tem razão, está mais do que na hora de o povo brasileiro tirar o traseiro da poltrona e ir para a rua, dar um susto.
João Pedro Stedile é dirigente do MST e da Via Campesina Brasil.

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