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quinta-feira

A crise política e suas conseqüências 


Erick da Silva

A crise política que assola o Brasil nos últimos meses tem uma série de conseqüências, e que muitas delas ainda demorarão um período indeterminado para se fazerem sentir em toda a sua plenitude.
A primeira das conseqüências diretas da crise é a alteração no quadro político-partidário brasileiro. Temos visto um "estranho" fenômeno de inversão de papéis na política. Sujeitos que historicamente tinham seus nomes vinculados a uma conduta, no mínimo questionável, sob o ponto de vista do interesse público e que, em muitos casos, tendo uma trajetória política vinculada a escândalos de toda a ordem, surgem como paladinos da moral. Tendo todos um espaço desproporcional de cobertura para suas colocações na grande mídia. Aliás, este é um aspecto que merece uma melhor reflexão, a forma parcial com que muitos veículos de comunicação de massa tem feito as suas coberturas sobre a crise, muitas vezes beirando ao absurdo. A "velha" máxima da imparcialidade no jornalismo nunca esteve tão "esquecida" como neste período.
No entanto, a um outro aspecto que parece ser ainda mais perverso e com desdobramentos de difícil previsão quanto as suas conseqüências futuras. O descrédito com a política e com os partidos nunca teve tanta acolhida como nos últimos meses. Ao se ter desvelado toda uma série de práticas condenáveis sob o ponto de vista da ética pública republicana, a imagem do PT e do Governo Lula ficaram profundamente abalada. E com isso, as teses de que "não existem alternativas", de que "tudo é igual" e de não existe mais uma "diferença" entre esquerda e direita tem ganhado força. E o que é pior, inclusive junto a setores historicamente vinculados a própria esquerda, que partem para a dispersão ou, até mesmo, o abandono da luta.
A questão central é que, por mais que alguns tenham traído a confiança e a toda uma história coletivamente construída, isto não é motivo para se abandonar a luta e a esperança. As desigualdades e as injustiças continuam a existir. As possibilidades de se construir uma outra lógica de sociedade continuam em aberto. O que não pode ocorrer é a desistência, pois esta é a maior vitória que os "de cima" poderiam almejar. Mais do que destruir uma legenda, como muitos setores da direita têm operado, o que não se pode permitir é que se destrua ao sonho e a esperança.
É ela que move o mundo. É o movimento pela mudança que permite que as desigualdades sejam superadas, e que os excluídos possam mudar a sua condição. Não se apaga tão facilmente toda uma história construída ao longo de mais de duas décadas por milhares de lutadores e lutadoras de todos os cantos do país. Ainda que a gravidade da crise seja extremamente profunda, e que todos os seus desdobramentos ainda se farão sentir, a luta permanece necessária, e os instrumentos para ela, que as forças populares construíram, ainda permanecem vitais.
A dispersão e o abandono não são uma saída. Muito pelo contrário, são a consagração da vitória final do "anjo da história" que implacavelmente tem acumulado vitórias, como em um outro momento, colocou o filósofo alemão Walter Benjamin. É esta escalada contra a barbárie que deve ser detida. As possibilidades, ainda que aparentemente difíceis, permanecem em aberto. Cabe construirmos este caminho de final incerto, mas ainda sim, necessário.

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