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terça-feira

A crise, o PT e a luta de classes 


Erick da Silva

Em tempos de crise política como a que vivemos, todos nós somos chamados a refletir sobre a organização partidária que temos, suas debilidades e virtudes. E até mesmo sobre a própria atualidade de um partido, em particular, do Partido dos Trabalhadores.
As alternativas da crise

Num debate mais conceitual, temos visto as mais variadas posições para as saídas da crise do PT. Muitos setores ligados ao antigo Campo Majoritário, tem buscado partir de soluções de continuidade "ética" a uma política que se mostrou de todo equivocada, sobre os mais diferentes aspectos. Pela esquerda, temos posições que apontam, ainda que com algumas diferenças, para o fim da experiência do PT. Destes, à aqueles que partem para a saída de outra construção partidária, de forma definitiva ou supostamente temporária, indo do PPS e PV ao PSOL.
Há ainda aqueles que, saindo do PT, ficariam dedicando-se apenas a organização nos movimentos ou em grupos de reflexão e assemelhados. E até mesmo a resignação. Esta última é extremamente perversa, é a reafirmação da vitória dos vencedores sobre os vencidos da história. É o abandono da luta, do sentimento revolucionário, como dizia Che, de tremer de indignação frente a qualquer injustiça e lutar para mudar.
Estas e outras posições, mais ou menos semelhantes, não se apresentam como soluções reais para a luta popular. Seja pela sua limitação conceitual, em não compreender a totalidade da dinâmica da luta de classes, seja prática, em não se constituir como agente efetivo da disputa de hegemonia.
Neste último aspecto, ele vem como marca maior do resultado de uma virtual dispersão da esquerda. Da perda da capacidade de estar, de maneira efetiva, alterando favoravelmente a conjuntura. "Quando a esquerda fecha o círculo da sua visão à luta dentro da esquerda ou no (ou contra o) PT, deixa de tomar a totalidade contraditória das relações de classe como reveladora do sentido de cada ator e de cada fenômeno - como demanda o marxismo."(1)

Desta maneira, o PSOL não conseguiu se constituir como alternativa partidária ao PT. Tanto por uma excessiva carga dogmática sectária de suas correntes internas majoritárias, pelo seu eleitoralismo excessivo ou pelo seu descolamento do movimento social de massas. Carregando uma forte carga de vanguardismo vulgar.
Isto nos traz a tona o debate de que organização se faz necessária para de fato levar a cabo os desafios que estão colocados, que é nada menos que a superação do sistema capitalista.
O partido e a consciência de classe

Marx colocou que "a ideologia dominante de toda a sociedade é a ideologia da classe dominante", este elemento nos ajuda na compreensão da importância de um Partido para o processo de tomada de consciência da classe trabalhadora. Na luta cotidiana, muitas vezes os explorados recorrem a valores, ideais e ideologias dos exploradores. Mas a ação consciente do movimento de massas, transversalizado pela atuação do partido dando o caráter mais geral a luta específica, faz com que as "amarras" da dominação se abalem.
A ação espontânea dos movimentos, no entanto, não basta para a ruptura com a ideologia dominante. A formação da consciência de classe do proletariado é um processo desigual e descontínuo.
Portanto, é necessário que haja uma vanguarda revolucionária que desempenhe o papel educador de garantir a continuidade do acúmulo de consciência da classe trabalhadora, no seu grau mais elevado de desenvolvimento, em momentos de descontinuidade da atividade política das massas. Transmitindo o acúmulo das lutas passadas.
A capacidade de compreender os diferentes níveis de tomada de consciência de classe, é fundamental para se buscar amalgamar a capacidade transformadora do movimento social de massas com a teoria revolucionária. Sem esta percepção, fugindo-se a todo tipo de vanguardismo dogmático, não é possível a vitória final. Como colocou Lenin, "lançar a vanguarda sozinha à batalha decisiva, quando toda a classe, quando as grandes massas ainda não adotaram uma posição de apoio direto a essa vanguarda ou, pelo menos, de neutralidade simpática, e não são totalmente incapazes de apoiar o adversário, seria não só uma estupidez como um crime... para que realmente as grandes massas dos trabalhadores oprimidos pelo capital cheguem a ocupar essa posição, a propaganda e a agitação, por si, são insuficientes. Para isso necessita-se da própria experiência política das massas... Saber atrair as massas para essa nova posição capaz de assegurar o triunfo da vanguarda na revolução, não pode ser cumprida sem liquidar o doutrinarismo de esquerda, sem corrigir completamente seus erros..."(2).
A alternativa PT

O PT nasceu fruto de acúmulo de forças de diversos movimentos e setores sociais do Brasil. Este nascimento se deu carregado de algumas limitações, e nem todas foram superadas nestas mais de duas décadas de história. E que cobram o seu preço. No entanto, apesar disto, ainda é a principal construção da esquerda brasileira. É o partido que traz consigo a marca da mudança junto as massas da população brasileira. A crise, ainda que abale esta marca junto a alguns setores menos vinculados programaticamente com o "petismo", ainda sim, carrega de maneira singular e indiscutível esta simbologia com uma considerável amplitude.
É neste fator, sua história e sua base social, que possibilita um recolocamento do PT em seu papel estratégico. E que fica mais nítido ao compararmos com o principal projeto "concorrente" ao PT, o PSOL. A ausência de enraizamento social, o que não pode ser produzido artificialmente, o descredencia como partido. "Sem esta ligação, a atividade revolucionária cria um núcleo de partido, mas não um partido. O conceito leninista da organização implica a não existência de uma vanguarda autoproclamada, e que é na procura de uma ligação revolucionária com a parte avançada da classe e as suas lutas efetivas, que a vanguarda deve conquistar o seu reconhecimento como vanguarda (isto é, o direito histórico de agir como vanguarda)(3).
O PT permanece atual enquanto instrumento de luta política. A sua superação não será fruto de uma simples negação descolada da realidade objetiva ou de sua replicação enquanto farsa. Não é esta a dinâmica da luta de classes. A sua superação (se ocorrer) se dará em condições que ainda não se apresentam concretamente, ainda que não impossíveis. O que é por completo imprevisível. Como colocou Gramsci, não se pode prever se não a luta e não o seu desenvolvimento e resultados.
Não há uma "linha-contínua" dos acontecimentos que pré-determina o resultado. O antagonismo, o conflito e suas contradições são inerentes ao sistema. A busca pela renovação de nossas experiências e a disputa programática no PT estão em curso. Esta é a tarefa maior colocada a todos os lutadores e lutadoras, como colocou o companheiro Raul Pont, " a desistência não é uma opção. A injustiça não desaparecerá porque a esperança foi traída. A tarefa de reconstruir o partido não pode ser delegada a uma nova direção. Tem que ser feita pelo conjunto dos petistas, através de um congresso de refundação do PT, uma constituinte petista. E quem traiu o PT não pode permanecer no PT."
A crise, antes de antecipar o possível "fim" do PT, abre a possibilidade de trazer a tona um "novo" e revigorado PT, que venha a cumprir suas tarefas históricas.
Notas:

1 Emir Sader; A crise do PT, a direita e a esquerda; 2005.
2 V.I. Lênin; Esquerdismo doença infantil do comunismo; 1920.
3 Ernest Mandel; Lenin e o problema da consciência de classe proletária, IN: Teoria Leninista de Organização; 1970.

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