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sexta-feira


O PT derrotou a si mesmo
Emir Sader


Uma derrota dessas proporções não se improvisa. Foi meticulosamente preparada ao longo do tempo. Dois anos depois da vitória de Lula, que finalmente chega à presidência do Brasil depois de quatro tentativas, o PT tem o pior resultado eleitoral de sua história, impondo uma dura derrota à esquerda brasileira.
Produziu-se o pior dos cenários possíveis: um governo que não é de esquerda, que não saiu do neoliberalismo, é vítima do monopólio privado da mídia alimentado pelos seus recursos, perde todas os conflitos no poder judiciário e enfrenta uma aliança de partidos que o isola politicamente. Se se estivesse realizando um governo de esquerda, seria de se prever esse isolamento, mas com um governo que faz todas as concessões às elites tradicionais, o resultado não poderia ser pior.
O governo Lula e a direção do PT aparecem como os grandes organizadores das derrotas sofridas pela esquerda nestas eleições. O governo, pela política econômica neoliberal e pelo discurso liberal, e a direção do PT, por ter anestesiado o partido e a militância, fazendo com que o partido perdesse sua alma (pela primeira vez em sua história, a onda final das eleições foi contrária ao PT. A tal da "profissionalização" fez da ação do PT algo indissociável à de outros partidos, substituindo os militantes por gente contratada para cumprir funções). A grande aliança nacional com o PMDB se esboroou. A oposição, na lona até dezembro do ano passado, ganhou novo oxigênio, propiciado pelo governo e remontou um arco de alianças políticas que não pensava ter, dado de presente pelos erros do governo e da direção do PT.
O PT preparou sua derrota, ao assumir a ideologia e a política liberal. Não bastou para cooptar a oposição a nível local, porque neste plano prima o melhor do PT – as políticas sociais – e isso as elites tradicionais detestam. O apoio que dão ao governo federal vem de sua política econômica, ausente dos governos locais.
A luta da esquerda hoje – dentro e fora do PT – é contra a hegemonia liberal dentro do governo. Caso esta prevaleça, a esquerda como um todo terá sido derrotada. Os caminhos desta luta podem ser distintos conforme a inserção de cada um, de cada movimento social, conforme a localidade e o setor social onde se situem. Mesmo os que considerem que se trata de uma batalha perdida, a luta contra a hegemonia liberal é um processo inevitável de acumulação de forças, porque o liberalismo penetra profundamente em quase todos os poros da sociedade e da prática política e cultural brasileiras. Sem um combate frontal a essa influência, não teremos no Brasil uma esquerda à altura das necessidades da construção de um modelo pós-neoliberal. A construção de uma ampla frente antineoliberal é a forma de lutar pelos ideais do Fórum Social Mundial no nosso país, para que Porto Alegre não seja apenas um quadro na parede.

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