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segunda-feira

O rebelde João

Erick da Silva*

Em 1910, mais precisamente no dia 22 de novembro daquele ano, após ser dado o toque de recolher, o ataque já estava pronto. Iniciava-se o movimento que entraria para a história como a “Revolta da Chibata”.
Os marinheiros tomaram naquela noite a então poderosa marinha de guerra brasileira e dirigiram os seus canhões contra a capital da república. A revolta foi dirigida, principalmente, pelo marujo João Cândido, conhecido como o “Almirante Negro”. O movimento lutava por melhores condições de vida para a categoria. O soldo era muito baixo; as condições de trabalho eram precárias; recebiam alimentação de péssima qualidade, muitas vezes estragada; as mínimas faltas eram castigadas com surras, solitária, ginástica punitiva. Em plena República, 22 anos após a abolição da escravatura, a punição física pela chibata ainda era realidade.
Práticas discriminatórias eram correntes, os oficiais orgulhavam-se de seus “sangues limpos” e desprezavam os marujos, que eram em sua quase totalidade formada por negros e mulatos. Tendo esta situação limite, e além disto, ao terem tido contato com outros marujos da Inglaterra, os brasileiros acabaram por receber forte influência do combativo movimento sindical europeu de então, mas principalmente da revolta de marinheiros ocorrida em 1905 na Rússia, que ficou conhecida como a “Revolta do Potemkim”. Com esta experiência absorvida, os marinheiros negros tiveram condições de organizar a revolta.
Após o inicio da rebelião, alguns dias mais tarde, o movimento sairia vitorioso, obtendo anistia da revolta, o fim da chibata e o reconhecimento das reivindicações. A vitória dos humildes marinheiros, no entanto, mal pode ser comemorada. Logo após o fim do movimento, o Governo iniciou o desrespeito da anistia e a repressão dos marujos, que foram demitidos, presos e perseguidos. Apesar da vitória quanto as condições dos marinheiros ( o fim da chibata, melhora na alimentação etc.) os principais lideres foram traídos e a maioria dos participantes foram assassinados.
João Cândido foi um dos poucos a sobreviver a traição governamental. No entanto, banido da marinha, com uma tuberculose que o acompanhou ao longo de toda a sua vida, não pode desfrutar dos avanços conquistados pela revolta. Tendo de lutar duramente ao longo de sua vida pela sobrevivência. Sendo perseguido e vigiado por sua participação na revolta, João teve um final de fida permeado pelas dificuldades.
Há uma dívida histórica que necessita ser reparada. Quase um século após a “Revolta de Chibata” ter ocorrido, apesar de constituir-se, talvez, na mais importante revolta de marinheiros de guerra no século XX, o movimento de 1910 permanece mal conhecido no Brasil e desconhecido internacionalmente. O que precisa ser reparado.

Erick da Silva é estudante de história

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