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terça-feira

Outro FSM é possível?
Conselho Internacional do Fórum de Porto Alegre decide estimular
atividades voltadas para a ação contra o neoliberalismo. Periodicidade anual do encontro não foi alterada


Antonio Martins
Passignando sul Trasimeno -- O Fórum Social Mundial está mudando. Conhecido como feira mundial das lutas por uma nova sociedade, responsável pelo resgate das idéias de utopia e emancipação social, o evento poderá estimular, a partir de agora, não apenas idéias generosas - mas também as lutas capazes de realizá-las. A novidade surgiu numa reunião do Conselho Internacional do encontro, que terminou nesta quarta-feira (7/4), em Passignando sul Trasimeno, um pequeno povoado italiano (5 mil habitantes), situado na bucólica província da Umbria.

O Conselho Internacional reúne cerca de 120 redes globais de movimentos sociais e organizações cidadãs. Encontra-se duas ou três vezes a cada ano. A edição de Passignano tinha por finalidade desenhar a "arquitetura" do 5o. Fórum Social Mundial (FSM), marcado para janeiro de 2005, em Porto Alegre. O tema que concentrou a atenção dos participantes foi a necessidade de abrir espaços para convergências ações comuns - sem, contudo, quebrar a diversidade e o caráter não-hierárquico e não-dirigista do FSM.

Diversidade ou pulverização?

Como fazê-lo? Parte do sucesso do Fórum deve-se ao fato de ele ser um encontro de múltiplos protagonistas. Qualquer organização participante pode inscrever uma ou mais atividades, sobre os temas em torno dos quais atua, utilizando qualquer método de trabalho. Em janeiro de 2003, última vez que o FSM reuniu-se em Porto Alegre, houve cerca de 1.300 "oficinas" ou "seminários" -- alguns para vinte participantes, outros, para 2 mil. Embora ajude a atrair gente de todo o mundo interessada em compartilhar seus pontos de vista, este formato passou a ser visto, por muitos, como tendente à pulverização. Em especial, criticava-se o fato de haver, em muitos casos, duplicação de atividades sobre um mesmo tema. Afirmava-se que, em nome da autonomia, o FSM estava promovendo múltiplas auto-suficiências.

As fórmulas encontradas em Passignano para enfrentar este problema são a antecipação das inscrições, e um trabalho específico para conciliá-las. Nas próximas semanas, o Conselho Internacional vai entrar em contato por correio eletrônico com as cerca de 20 mil organizações que participaram dos últimos FSMs ou dos encontros preparatórios a eles. Vai-se indagar a elas, desde já, que temas pretendem abordar em janeiro de 2005, e se estão dispostas a fazê-lo em associação com outras, voltadas ao debate dos mesmos assuntos, em qualquer parte do mundo. A idéia é estimular articulações imediatas. Se um sindicato colombiano e uma associação de defesa dos trabalhadores clandestinos na Espanha verificarem que têm, ambos, interesse em debater políticas para defesa dos imigrantes, por que hesitarão em fazê-lo conjuntamente?

Informação, debate, agendas comuns

Não é só. Sempre que houver disposição para tanto, os proponentes de atividades ligadas a um mesmo tema serão convidados a redesenhá-las, para torná-las mais completas, atraentes e efetivas. Supondo que haja sete atividades propostas sobre o tema "dívida externa"; quatro sobre "tributo Tobin"; três sobre "combate aos paraísos fiscais"; cinco sobre "papel do FMI e Banco Mundial". Não seria possível substituir tudo isso por um grande painel sobre "A batalha por uma nova ordem financeira internacional"? Não haveria debate mais denso, diálogo entre distintas perspectivas que se complementam, possibilidade de lançar campanhas de repercussão?

Na reunião de Passignano, lembrou-se repetidas vezes que tal método será apenas uma possibilidade oferecida aos participantes. As organizações que desejarem, poderão propor oficinas e seminários "solitários". Embora o tema não tenha sido debatido, parece claro que serão mantidas atividades como as grandes conferências, realizadas em Porto Alegre no Gigantinho. Seu papel não é a elaboração de propostas, mas a difusão de idéias entre público amplo. Nelas, dezenas de milhares de pessoas (quase sempre jovens) encontram-se com gente como intelectuais e ativistas como Eduardo Galeano, Noam Chomsky ou Arundhati Roy.

É possível que o 5o. FSM estaja, aliás, ainda mais integrado com a cidade de Porto Alegre. Nas próximas semanas, vai se decidir entre manter a maior parte das atividades concentradas na Universidade Católica - onde as instalações são excelentes, mas o acesso é difícil e o ambiente elitizado - ou transferir parte delas para locais talvez menos confortáveis, porém mais acessíveis e ambientalmente sãos.

Periodicidade será definida em janeiro

Ao contrário do que se chegou a informar no Brasil, o Conselho Internacional não decidiu alterar a periodicidade do FSM. O tema entrou em pauta, e ficaram claras duas tendências. Redes internacionais como a Via Campesina propuseram que, após janeiro próximo, o encontro ocorresse a cada dois anos apenas. Sustentam que, como surgiram também Fóruns nacionais, regionais e temáticos, muitas organizações são obrigadas a um enorme esforço, político e financeiro, para acompanhar o calendário. Um número equivalente de participantes chamou atenção, porém, para um aspecto mais político do problema. Seria correto recuar dos FSMs anuais, precisamente no instante em que a situação internacional torna-se mais grave, e em que surgem ameaças terríveis mas, ao mesmo tempo, tantas esperanças de um novo caminho para o planeta?

A resolução aprovada procura dar mais tempo ao debate. Ela lembra que há um consenso sobre a necessidade de "manter a presença anual do FSM". Mas transfere para uma nova reunião do Conselho Internacional - a ser realizada em janeiro próximo, em Porto Alegre - a decisão sobre "a forma" em que esta presença se dará. Poderá ser um grande encontro mundial. Mas também a realização mais ou menos simultânea de grandes Fóruns continentais, mobilizações coordenadas em todo o mundo, numa mesma época, ou - por que não? -- uma combinação entre todas estas atividades.


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